sexta-feira, 14 de março de 2025

Pedras bovinas

 

(Foto: Arquivo Pessoal)

 

#MaisPreciosaQueOuro – Quando se fala em objetos de alto valor, nos lembramos logo do ouro. Para minha surpresa, leio uma matéria de Graciliano Rocha, no UOL, com o título: “Por que esta pedra, que cresce na vesícula do boi, vale o dobro do ouro?” Há 10 anos, José Oliveira (59) fundou a empresa Oxgaal, em Goiás, para explorar um ramo altamente lucrativo no meio da pecuária, o broker de pedra de fel bovino, como são conhecidos os cálculos que surgem nas vesículas dos bois, muito valorizados por seu uso na medicina tradicional chinesa.

 

Para se ter ideia, 1 grama desses nódulos de bile endurecida chega a ser negociado por US$ 230 nos grandes centros da China, o que representa o dobro da cotação do ouro. “Antigamente, isso era uma coisa que se jogava fora, porém, atualmente, os frigoríficos indianos têm até segurança para a extração das pedras. Há uns dez anos, um indiano me procurou perguntando se eu não conseguiria encontrar essas pedras e foi aí que entrei no negócio”, conta Oliveira.

 

A Oxgall compra o produto de frigoríficos e pequenos produtores de todo o Brasil. As pedras variam de qualidade e são classificadas pela empresa, que paga entre R$ 30 e R$ 900 por grama. Ao chegar à Ásia, o grama de bile endurecido de maior qualidade (coloração amarelo-escura) é cotado a partir de US$ 200. Quando perguntado se o negócio o deixou rico, Oliveira desconversa. Mas, ele se prepara para mudar para Hong Kong a fim de vender as pedras diretamente aos mercados de Xangai e Pequim.

 

O jornal americano The Wall Street Jornal publicou uma reportagem sobre esses cálculos biliares produzidos pelo rebanho brasileiro, que comprova a crescente demanda, impulsionada pelo envelhecimento da população chinesa, com aumento de doenças, como hipertensão e obesidade. Retrata casos de assaltos às fazendas e frigoríficos, além de contrabando sofisticado, com várias maneiras de burlar a fiscalização. Aliás, com condenações por tráfico ilegal do produto, como acontecido no Uruguai.

 

A extrema valorização tem a ver também com os bovinos, visto que em apenas uma minoria de animais ocorre o fato, apesar da mesma genética e alimentação. O que se sabe é que a prevalência é maior entre os animais mais velhos e de raças leiteiras, sendo cada vez mais raro na pecuária brasileira, em razão de uma alimentação mais controlada e períodos de engorda mais curtos, fatores que contribuem na redução de formação dessas preciosas pedras.

 

Segundo especialistas, não existem explicações no campo da medicina veterinária sobre por que essas pedras se formam em apenas uma minoria dos bovinos. Para os gananciosos aventureiros, por enquanto, não restam esperanças de obterem lucros rápidos e estrondosos com uma matança generalizada de animais. Ainda bem! #PedrasBovinas

 

Junji Abe, produtor e líder rural, é ex-prefeito de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo

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