terça-feira, 8 de abril de 2025

Ameaça do deserto

 

#RiscoIminente – “Gigante pela própria natureza – És belo, és forte, impávido colosso – E o teu futuro espelha essa grandeza” – “Do que a terra, mais garrida – Teus risonhos, lindos campos têm mais flores – Nossos bosques têm mais vida – Nossa vida, no teu seio, mais amores”. Essas estrofes do magistral Hino Nacional refletem a riqueza do Brasil, inigualável em todos os sentidos. Contudo, 525 anos após seu descobrimento, é alvo de questões alarmantes, como “Brasil pode ter deserto?” A reportagem mira a caatinga do nordeste brasileiro como a região mais vulnerável para a degradação ambiental. Com clima semiárido, está susceptível a um processo de desertificação que pode sacrificar uma população estimada em 38 milhões de pessoas, além de 42 regiões habitadas por povos indígenas.

 


A previsão tem amparo nos dados do cientista, professor universitário, meteorologista e fundador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélite (Ufal), Humberto Alves Barbosa: “O deserto natural leva milhões de anos para encontrar um equilíbrio entre biodiversidade e vegetação. Se uma área semiárida está passando por um processo de desertificação, isso é muito mais nocivo, porque os solos não passaram por milhões de anos para chegar em uma característica de deserto. Essa nova área desertificada não teria uma autodefesa, e espécies invasoras poderiam se apropriar do cenário debilitado do ecossistema”.

 

O território brasileiro encontra-se majoritariamente numa região tropical com diversidade de biomas que lhe fornece a estabilidade da atmosfera e do solo. Porém, a desertificação pode ser resultado de vários fatores como o desmatamento, atividade de pecuária e incêndios florestais, que geram o desequilíbrio entre a atmosfera e o solo. Especialistas também destacam as mudanças de ordem climática, com o aquecimento global, como causas que aceleram a desertificação do semiárido brasileiro.

 

O Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) demonstram a tendência do aumento de aridez em todo o território nacional (exceto a região sul e parte do sudeste), com o norte de Minas e nordeste demonstrando aumento de área árida, semelhante aos desertos, nunca observado nas décadas passadas. 

 

Carlos Madeiro, colunista do Uol, ratifica a célere desertificação do Brasil, demonstrando que a área seca aumentou 970 hectares em dois anos, alcançando extensão equivalente ao território da Jamaica, ou duas vezes a área do Distrito Federal. Lastreia-se no estudo do MapBiomas cuja tendência observa-se desde 2009. Preocupantemente, o rico Pantanal brasileiro não escapa da nova realidade.  Em 2024, foi o bioma que mais perdeu água, com a superfície 61% menor que a média histórica da região.

 

O Brasil tem 12% da água potável do planeta, mas há uma distribuição desigual, com 61% da superfície de água na Amazônia. Tem solução? Conforme os especialistas, o solo pode retomar a fertilidade e o suprimento de água, porém, é um processo de no mínimo 30 anos, sem integração humana com o território, executando-se políticas públicas permanentes, sem desvios, com investimentos elevados. Estima-se que há 207 mil km² de solos em estado severo de degradação na caatinga.

 

A realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), em novembro próximo, em Belém/PA, será importantíssima. Na ampla discussão das mudanças climáticas de ordem mundial, os problemas da célere desertificação serão acentuadamente debatidos. #AmeaçaDoDeserto

 

Junji Abe, produtor e líder rural, é ex-prefeito de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo

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