quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Escolher é uma dádiva

Domingo é dia de eleições municipais. É quando os cidadãos do País inteiro vão às urnas escolher os comandantes de suas cidades e os seus representantes nas Câmaras Municipais. Gostaria muito que cada um dos eleitores refletisse bem sobre o significado do ato de votar. Está longe de ser uma aporrinhação. Também não se trata apenas de obrigação ou dever cívico. É bem mais. Significa oportunidade. É a chance de dizer, com voz alta e soberana, o que deseja para o município onde vive, nos próximos quatro anos. 
"Acima de tudo, não podemos nos aposentar das nossas almas." 

Alguém vai dizer que os políticos são todos iguais. Prometem e não cumprem. Assumem o poder e se esquecem dos compromissos de campanha. Sim, muitos deles não honram os votos que receberam. Sim, muitos deles ignoram a verdadeira essência da política, que é a arte de praticar o bem comum. Mas, não são todos. Ao atirar toda classe política na vala comum do descrédito, o eleitor perde a chance de exercer o seu direito de depuração, de seleção soberana. Se a vida é feita de escolhas, por quê abrir mão de escolher?

Escolher é tarefa difícil em quase todas as situações. Mas, nas eleições, escolher é uma dádiva. Significa se empoderar para aproveitar a oportunidade de usar o instrumento maior do regime democrático: o voto. Quem falta ao pleito, anula ou vota em branco, simplesmente, deixa que os outros escolham. É um falso conforto que sai bem caro mais adiante. Depois, vira hipocrisia ir para as ruas protestar. As manifestações, absolutamente legítimas, servem para cobrar e exigir posturas. Mas, o melhor caminho ainda é escolher bem em cada eleição. Abrir mão de escolher é como reclamar da cor da cortina, depois de dizer que aceitava qualquer uma. Ou o pai ausente culpar a mãe pela educação (ou falta dela) dada aos filhos.

Em Mogi das Cruzes, cabe a 296.944 mogianos decidir quem será o próximo prefeito e os 23 vereadores. Três candidatos disputam a Prefeitura, juntamente com seus vices, e quase 400 concorrem ao cargo de vereador. Embora o meu filho, vereador Juliano Abe (PSD), seja um dos concorrentes a vice-prefeito, não escrevo para pedir votos na chapa dele. Peço ao eleitorado mogiano que vote com consciência, depois de analisar criteriosamente os concorrentes, suas propostas, a viabilidade econômico-financeira dos compromissos que assumem e seu histórico de trabalho e de vida. 

Da mesma forma, rogo que avaliem a própria Cidade. Vale observar como está, o que já foi feito, quanto evoluiu nos últimos anos, do que precisa para ficar melhor e qual dos prefeituráveis estaria melhor qualificado para manter o ritmo de desenvolvimento. Afinal, o maior problema em qualquer lugar é a paralisação ou estagnação de bons projetos, simplesmente porque foram iniciados pelo gestor anterior. Bom prefeito é aquele que coloca a Cidade acima da sua vaidade e ambições pessoais. Ele não se preocupa em imprimir o próprio nome na posteridade. Ele se dedica, dia após dia, à missão de oferecer melhores serviços públicos e ampliar a qualidade de vida da população à qual serve. Não interessam autorias, mas resultados.

Dito isso, repito que a palavra-chave é participação. Faço um veemente apelo à população para que não se distancie da política. Ao contrário: que seja cada vez mais participante do processo político, como agente da transformação cultural, de postura e atitude pela moralização dos seus representantes. Os avanços esperados virão. Basta que cada um vista seu sentimento cívico e assuma, verdadeiramente, suas responsabilidades na evolução social. 

Que saibamos sustentar garras afiadas na defesa daquilo em que acreditamos. E tenhamos, ao mesmo tempo, tolerância para respeitar a diversidade de ideias e a pluralidade de opiniões, assim como possamos conciliar as divergências em benefício das pessoas. A contínua participação popular nos rumos da Cidade, do Estado, do País pavimentará um caminho mais próspero, confortável e seguro para as gerações futuras. 

Conclamo os cidadãos de bem para que exerçam com vigor seus direitos de escolher seus representantes e, depois, de fiscalizar e exigir. Juntos, defendamos nossos ideais, batalhemos pela concretização dos nossos sonhos e tenhamos fé de que somos capazes de fazer sempre o melhor. Acima de tudo, não podemos nos aposentar das nossas almas. Então, façamos valer nossas escolhas, nossos anseios. E cobranças também. Bom voto!

Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Dignidade do endereço

“Quem casa quer casa”. Apesar de ser um dito popular verdadeiro e uma aspiração das mais legítimas, infelizmente, é uma realidade ainda distante da maioria da população, por causa do alto índice de desigualdade social. Em que pese a consciência da grandiosidade do Brasil e a profunda emoção aflorada ao cantar o Hino Nacional, não se pode negar a imensa dificuldade do povo que vive à míngua e sonha com a conquista da casa própria.

Onde você mora? Trata-se de uma pergunta simples que ainda causa constrangimento a milhões de brasileiros. É gente por trás do número de 6,5 milhões que indica o deficit e a inadequação de moradias no País. O problema exige um tratamento bem mais amplo que a construção de habitações. Não basta um teto, do jeito que der e em qualquer lugar. Muito menos construções de qualidade duvidosa só porque é para pobre. Este raciocínio equivocado já causou estragos demais no cotidiano das pessoas que enfrentam a falta de tudo em localidades desprovidas de infraestrutura e marginalizadas pela sociedade. Pior, sofrem discriminação até na disputa por um emprego. 

Políticas públicas para amparar a classe menos favorecida existem. Basta citar a Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano (CDHU), do governo paulista, e o mais recente Minha Casa Minha Vida, da esfera federal. Porém, as ações ainda são insuficientes para atender às gigantescas demandas. Longe do ufanismo, peço licença para destacar que, em Mogi das Cruzes, o deficit habitacional vem sendo combatido com maior celeridade, ao longo dos últimos 20 anos. 

Busco na memória o período em que, como deputado estadual, participei ativamente das conquistas e implantações de conjuntos habitacionais, construídos em parceria pelo Estado e Município, por meio da CDHU. Cito Conjunto Jefferson, Vila Cléo, Toyama, Seki, Nova Jundiapeba, César de Souza e Vila Nova Aparecida, entre outros, além do Minha Casa Minha Vida, trabalho conjugado da Prefeitura com o governo federal que contemplou milhares de famílias, a partir de 2005, coincidindo com o início da nossa segunda gestão como prefeito. 

O combate ao déficit habitacional tem de ocorrer em sintonia com a implantação de equipamentos urbanos e a oferta de serviços públicos. Caso contrário, a inclusão social não se processa. Para na entrega das chaves. Os resultados são conhecidos. Sofrimento para os moradores, desemprego, inadimplência, risco de aumento da violência, segregação social, maciça atuação de especuladores imobiliários, danos ambientais, prejuízos gerais para sociedade.

Com o objetivo de tratar do problema com solução eficaz, em 2008, desenvolvemos em Mogi das Cruzes, por meio do Conselho da Cidade, o Plano Municipal de Habitação de Interesse Social – que integra o Plano Diretor – contendo diretrizes para os investimentos em moradia nos 20 anos seguintes. Na ocasião, o diagnóstico habitacional realizado pelo Instituto Brasileiro de Administração Municipal (Ibam) identificou o deficit de aproximadamente 9 mil unidades habitacionais – o equivalente a 7% dos cerca de 125 mil domicílios particulares –, concentrado em área urbana e na população mais pobre, com renda inferior a três salários mínimos (R$ 2.640,00, em valor nacional atual). Mais de 90% das famílias dividiam um lote – vivendo em cômodos separados ou debaixo do mesmo teto – ou moravam em cômodos alugados. Os 10% restantes ocupavam domicílios rústicos e improvisados, como barracos que nem têm banheiro.

Além disso, o levantamento constatou mais de 3 mil moradias com irregularidades fundiárias, incluindo aquelas erguidas em locais de proteção ambiental. Somadas às habitações edificadas em áreas de risco, sob constante ameaça de deslizamentos de terra, desabamentos ou alagamentos, o total de assentamentos precários chegava a quase 6 mil. 

Este era o cenário de 2008. O quadro já fora muito pior. Desde 2001, quando assumimos a Prefeitura, a boa relação com os governos estadual e federal já havia viabilizado a entrega de 5.162 moradias e outras 2.200 unidades estavam em obras ou em projeto, por meio da CDHU ou do sistema Programa de Arrendamento Residencial (PAR), da Caixa Econômica Federal. Das habitações entregues, cerca de 52% destinavam-se a famílias com renda mensal de até três salários mínimos.

Folgo em saber que meu sucessor, o prefeito Marco Bertaiolli (PSD), vem dando continuidade ao Plano Municipal de Habitação de Interesse Social. Graças à continuidade de boas gestões, Mogi segue firme com o Programa Minha Casa, Minha Vida, que terá garantido à Cidade mais 5.240 residências até o final do ano. Tudo, para tentar abater o deficit habitacional mogiano, que gira em torno de 10 mil moradias, segundo dados de 2015. Sim, sempre aumenta de ano para ano porque a população cresce. De 2008 para 2016, o total de habitantes subiu mais de 14% (equivalente a 53,06 mil pessoas ou quase 18 mil famílias), enquanto a carência de habitações avançou cerca de 11% (1 mil unidades), o que comprova a eficácia das ações municipais. 

Dentre milhares de apartamentos já entregues, no início da quinzena (19/09), a Prefeitura entregou outros 420 do Programa Minha Casa Minha, no Bairro da Porteira Preta. As emoções incontidas, traduzidas em lágrimas dos contemplados, são legítimas manifestações e indicativos inquestionáveis aos governantes de que a população clama por responsabilidade e celeridade para o resgate da dignidade humana.
"Com planejamento e responsabilidade do poder público, em
sintonia com a comunidade, será possível vencer o desafio
de proporcionar ao povo carente a dignidade do endereço." 

Em Mogi das Cruzes, a compatibilidade entre novos núcleos habitacionais e o necessário aparato de infraestrutura está bem encaminhada. Cada região beneficiada com moradias populares, como a Porteira Preta, é dotada de estrutura completa nas áreas de educação, saúde, saneamento básico, infraestrutura viária e lazer. Espero que seja assim nos demais municípios brasileiros que firmaram parceria com o governo federal. Com planejamento e responsabilidade do poder público, em sintonia com a comunidade, será possível vencer o desafio de proporcionar ao povo carente a dignidade do endereço. É direito e mérito dos brasileiros. 

Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Combate imperdível

O dito popular apregoa que “duas cabeças pensam melhor que uma”. Em todo campo do conhecimento humano, a construção coletiva, com a participação direta dos envolvidos, e o apoio da sociedade, traz resultados efetivos e muito superiores aos que seriam coletados a partir de uma proposta individual. A democracia embala o processo, ao permitir que as vozes ecoem. Não é fácil conciliar múltiplas opiniões, boa parte delas divergentes. Porém, é divino. Vencido o teste de fogo do respeito e tolerância com a diversidade, toda a população sai ganhando. 

"construção coletiva traz resultados muito superiores aos
que seriam coletados a partir de uma proposta individual."
Sob essa óptica, merece registro e destaque o II Encontro de Grêmios Estudantis, realizado este mês (12/09), no Teatro Vasques, em Mogi das Cruzes. A importância da iniciativa justifica o reconhecimento especial à figura maiúscula da dirigente regional de Ensino de Mogi das Cruzes, Profª Rosania Morales Morrone, em parceria com a Prefeitura e o Conselho Municipal da Juventude de Mogi das Cruzes. O evento teve caráter regional com a participação dos representantes das organizações estudantis de 75 escolas estaduais de Mogi das Cruzes, Biritiba Mirim e Salesópolis, atendidas pelo órgão da Secretaria Estadual de Educação. 

Reputo de fundamental importância a participação dos alunos, por meio de grêmios estudantis, juntamente com mediadores, gestores e autoridades públicas. É o instrumento para fomentar cada vez mais as discussões racionais e sadias, objetivando o tão desejado ensino de qualidade para todos. Fique claro que o ponto de vista do estudante é tão importante quanto o dos demais agentes do sistema educacional. Não pode ser desprezado nunca. Foi-se o tempo em que prevalecia o equivocado conceito de que a juventude era alienada. Nunca foi. O que havia era o bloqueio da sua participação. 

Como cidadão brasileiro, filho e neto de japoneses, trago do berço o aprendizado dos meus ancestrais. A desigualdade social naquele país é ínfima como efeito da permanente prioridade de altíssimos investimentos no ensino de qualidade, visando a excelente formação do ser humano em todos os sentidos. Como gestor e homem público, alicerço-me infinitamente nesta lição elementar e travo uma batalha nacional para melhorar a nossa educação. Mogi das Cruzes tem sido um diferencial no País, servindo de referência na busca incessante da excelência no setor educacional público. Me orgulho de fazer parte dos importantes avanços registrados.

Modéstia à parte, desde 2001, quando tivemos a honra de administrar a Cidade, estávamos bem preparados, norteados pela bússola que foi o Plano de Governo Participativo (PGP), fruto do trabalho conjunto com a população mogiana. Como efeito da participação popular, assumimos a Prefeitura e mudamos radicalmente o conceito da gestão municipal da educação. Além de multiplicar vagas nos diferentes níveis de formação escolar a fim de atender à demanda e acabar com os acampamentos de mães nas portas de escolas para mendigar atendimento, estabelecemos um novo modelo de prédio escolar. Os estabelecimentos ganharam sedes modernas e amplas, dotadas de completa estrutura e equipamentos para práticas esportivas, atividades artístico-culturais e incremento intelectual. Isto incluiu bibliotecas multimídia e laboratórios de informática com acesso à internet. 

Associada à remodelação física e operacional das unidades, investimos pesado na qualificação e valorização dos professores e demais profissionais da educação, dentre muitas outras ações. Realço uma das que considero imperiosas para evolução do ensino municipal: a efetiva participação dos pais no acompanhamento educacional dos seus filhos. Trabalhamos fortemente na motivação conceitual da Associação de Pais e Mestres (APM), auxiliando na sua integral reestruturação, para tê-la como imprescindível parceira, objetivando o ensino de qualidade. Todas as iniciativas crescem em ritmo acelerado nas gestões do meu sucessor, o prefeito Marco Bertaiolli (PSD).

Apesar da magnitude e importância dessa parceria com os pais e com os alunos, na maioria das administrações municipais, ela passa esquecida e desestimulada. É uma pena porque a dinâmica da educação demanda o envolvimento de todos os atores. Não dá para limitar o processo de aprendizagem ao trabalho dos professores que, por melhores e mais eficientes que sejam, precisam do respaldo dos demais elos da cadeia produtiva do setor educacional. 

Nesse sentido, felicito os representantes de organizações estudantis e autoridades públicas pela realização, na terra mogiana, do II Encontro de Grêmios Estudantis. O evento dá à sociedade o recado cristalino de que a luta pela melhoria da qualidade educacional no País é de responsabilidade de todos, robustecendo o conceito participativo. Para o Brasil ser a nação de Primeiro Mundo que almejamos, o passo inicial é garantir ensino qualificado e acessível à população de todas idades e níveis socioeconômicos. Portanto, o bom combate é imperdível. Significa a redenção do País, com igualdade de oportunidades para o povo, sob o carimbo indelével da justiça social.

Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Árdua luta

Todo ano, 320 mil jovens brasileiros, na faixa etária de 25 a 39 anos, morrem por causa do alcoolismo. O Brasil é o terceiro país das Américas com mais mortes de homens causadas pelo álcool. De 3% a 10% da nossa população fazem uso abusivo de bebidas, prática catalogada pela Organização Mundial de Saúde como verdadeira epidemia e que figura como a terceira causa de mortes no mundo. Só perde para o câncer e doenças cardíacas. 

Homem chega em casa bêbado, espanca a esposa e bate nos filhos. Motorista embriagado perde o controle do carro e atropela pedestres. São notícias corriqueiras no País, que confirmam outras consequências graves do alcoolismo, líder do ranking de causas da violência familiar e urbana, incluindo agressão sexual. Alguém embriagado pode prejudicar quem está ao redor, colocar pessoas em risco de acidentes ou transformá-las em vítimas de comportamento violento.

O alcoolismo também é o terceiro motivo para faltas e a razão mais frequente de acidentes. A doença é a oitava origem de concessões de auxílio-doença e consome de 0,5% a 4,2% do PIB, segundo a Associação dos Estudos do Álcool e Outras Drogas (Abead). Dados da entidade mostram que 61% dos condutores envolvidos em ocorrências de trânsito estavam embriagados. O índice sobe para 75% nos casos fatais. A vigência da Lei Seca foi um avanço, mas fracassou por falta de fiscalização eficiente. Nas capitais brasileiras, aproximadamente 150 mil dirigem após ingerir bebidas alcoólicas. Uns morrem e muitos matam.

Diante do quadro estarrecedor, poder público e sociedade precisam atuar juntos para pôr em prática medidas capazes de combater o problema. Se o que é ilegal e vigiado pela polícia já se prolifera, imagine o que não contraria a legislação. O álcool é uma droga lícita. Logo, o primeiro ponto é a conscientização para evitar o consumo excessivo. Isto precisa ocorrer com programas de prevenção e ações dirigidas, incluindo restrições à disponibilidade de produtos, aumento de preços e controle no mercado e na publicidade. Não pode perdurar a bateria publicitária de gente feliz (e famosa) enchendo o caneco. 

"Não pode perdurar a bateria publicitária
de gente feliz (e famosa) enchendo o caneco."
Para prevenção do alcoolismo e outras dependências químicas, é vital atuar de forma vigorosa e contundente, principalmente no sistema de ensino. Como exemplo, cito o Proerd (Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência), de iniciativa da Polícia Militar do Estado de São Paulo. Foca o combate ao vício por meio da conscientização na rede escolar. Desde minha primeira gestão como prefeito, em 2001, atuamos em parceria em Mogi das Cruzes. Pelos resultados altamente benéficos que colhemos, rogo para que projetos similares se espalhem pelo País.

Nessa direção da prevenção, registro as sinceras congratulações às pessoas que se esforçam para convencer a sociedade a ficar longe das drogas. É o caso de membros e voluntários da Igreja Adventista que, no mês passado, fizeram uma passeata pelo centro urbano de Mogi das Cruzes. Com faixas, cartazes, folhetos, apitos e bexigas, além de encenações teatrais, demonstraram as graves consequências do alcoolismo para o organismo, família e convívio social. Foi uma lição de cidadania que precisa ser assimilada e incorporada também pelos governantes para que saiam da zona de conforto e ataquem, de fato, as causas dos problemas. Não apenas os efeitos. Os exemplos reforçam minha eterna luta em prol das políticas públicas voltadas à prevenção, muito mais eficientes e baratas que as, embora necessárias, providências curativas.

O importante trabalho da sociedade civil não livra o País da responsabilidade de melhorar sua estrutura de tratamento aos dependentes químicos. Por iniciativa da Prefeitura, Mogi das Cruzes, por exemplo, ganhará neste ano o Caps AD 24 horas (Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas) e a UAA (Unidade de Acolhimento Adulto). O primeiro disponibilizará equipe multidisciplinar para atender, em tempo integral, às pessoas com necessidades específicas por causa do uso de álcool e outras drogas. O outro garantirá assistência ambulatorial e dez leitos para abrigo, por período curto, de pacientes em momentos de crise.

São dois tipos de assistência inéditos na Cidade. Principalmente, porque atuarão com a função principal de prover a reinserção social pelo acesso ao trabalho, lazer e fortalecimento dos laços familiares, assim como o resgate de elos comunitários. Faço votos que esse trabalho seja complementado com a aprovação de um projeto de Lei (6737/2013), que apresentei enquanto deputado federal e prevê tratamento domiciliar aos dependentes de drogas. 

A iniciativa visa facilitar o acesso aos serviços que auxiliam na manutenção da abstinência, assim como combater a reincidência e proporcionar maior eficiência à recuperação. Apesar de ser considerada uma demanda da saúde, a dependência de drogas e álcool precisa ser entendida não apenas pelos aspectos físicos e fisiológicos, mas também pela dimensão psíquica ou emocional. O cenário a ser analisado inclui fatores sociais, culturais e familiares. O tratamento compreende a atuação de diversas áreas profissionais de forma integrada. Assim, é possível lidar com a dependência química sem a descrença quanto à recuperação.

O acompanhamento domiciliar já é praticado em várias Clínicas-Escola de universidades brasileiras, com resultados animadores. Dependentes e familiares recebem profissionais da saúde em casa, o que resulta em aumento de adesão ao tratamento, início de atendimento àqueles avessos à ideia de ir até o hospital, aumento do tempo de abstinência e diminuição de reincidência.

Apesar de necessária em muitos casos, a hospitalização vem sendo considerada insuficiente. Faz-se necessária, após a alta, a adoção dos tratamentos que auxiliam na manutenção da abstinência, por meio de estratégias como a farmacoterapia, psicoterapia e reabilitação social.

O tratamento domiciliar tem o mérito de possibilitar o envolvimento direto dos familiares no processo de recuperação. O dependente químico sente a responsabilidade de se esforçar e sabe que conta com o fundamental apoio da família para sair vitorioso da árdua luta contra as drogas. Quando deixei a Câmara, em janeiro de 2015, minha proposta foi arquivada e retornou à apreciação por iniciativa de outro parlamentar, no exercício do cargo e autor de trabalho apensado na mesma árvore de proposições liderada pelo projeto mais antigo (5857/2009). Agora, a expectativa é que vire lei, contribuindo com iniciativas como a da Prefeitura de Mogi. 

Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Poderosa menina

"Das ruas estreitas de terra iluminadas por lampiões, surgiu um centro urbano avantajado, movimentado por múltiplas potencialidades nas diferentes áreas do conhecimento."
Não se pode passar em branco o aniversário. É mais do que uma data especial. É o marco de um ano novo. Assim é com a gente. Assim é com um município. Mogi das Cruzes completou 456 anos neste 1º de setembro. Das ruas estreitas de terra iluminadas por lampiões, surgiu um centro urbano avantajado, movimentado por múltiplas potencialidades nas diferentes áreas do conhecimento. A evolução ao longo da história coloca a Cidade entre as melhores do País para se viver. Sabemos o quanto ainda precisa ser feito para garantir ao povo mogiano a dignidade a que tem direito. Mas, não se pode ignorar os avanços consolidados. 

Sou mogiano do Distrito de Biritiba Ussu. Mogi das Cruzes é onde nasci, cresci, trabalho, casei com a Elza, criei meus filhos, vivo com minha família e brinco com meus netos. É o Município que tive a honra de administrar por oito anos seguidos. É a Cidade a que dedico os meus maiores (e melhores) esforços. Como homem público, como cidadão, como filho. De todos os lugares do mundo, é o melhor, o mais bonito, o que carrego no coração. É aqui, meu lar, onde me sinto perfeitamente acolhido. Pelo carinho de um povo guerreiro, meigo e solidário que põe um pouco da sua alma em cada palmo deste chão e acredita em dias sempre melhores. 

É da natureza humana dedicar mais tempo e energia para criticar do que para elogiar. Problemas e frustrações do cotidiano parecem contaminar a esperança de dias melhores. Cresce a perspicácia para enumerar falhas; cai o ânimo para notar virtudes. Nesses momentos de poucas luzes, o reconhecimento expresso num elogio tem o poder de um caloroso abraço. Devolve a força e injeta estímulo para novas jornadas. Não significa ver o mundo cor-de-rosa. Apenas, usar a capacidade de discernimento. O que é bom precisa ser notado e elogiado tanto quanto o que é ruim tem de ser apontado e corrigido. 

Nada é tão bom que não possa ser aperfeiçoado. Da mesma forma, nada é tão ruim que justifique o abandono. União, organização e trabalho, muito trabalho em conjunto, ainda fazem toda diferença. Não importa a causa nem o tamanho dos obstáculos. Resgato uma memória que inspira o ideal de nunca perder a fé. Quando menino, pela janela da sala de aula, na centenária Coronel Almeida, vi a antiga igreja da praça sucumbir, a golpes de marreta. Os escombros deram lugar à magistral Catedral de Sant’Anna, a nossa Matriz. 

Nada é tão pesado a ponto de não ser removido ou modificado, se existe união para o objetivo comum. Afinal, foi assim que surgiu o PGP – Plano de Governo Participativo, edições I e II, resultado de um verdadeiro mutirão popular. Milhares de cidadãos se debruçaram sobre os problemas da Cidade, forneceram dados, apresentaram propostas, mostraram seus anseios e necessidades. Da comunidade mogiana, vieram soluções eficazes e cri­ativas. 

O documento balizou as ações da administração municipal visando conduzir Mogi das Cruzes para o desenvolvimento econômico com justiça social e qualidade ambiental. É este o desafio que o trabalho integrado e participativo pode vencer. Ter a população como principal consultora é uma diretriz da qual nenhum gestor público pode se privar. Que ninguém se engane porque o povo responde o chamado para participar.

O povo mogiano é o melhor de tudo o que há de bom e mais expressivo em Mogi das Cruzes. Digo isso com a cátedra de quem ancorou na sabedoria da população dois mandatos como prefeito. Juntos, implantamos o conceito de gestão descentralizada, integrada e participativa. 

As melhores realizações da Prefeitura em todos os setores foram semeadas pela própria comunidade no PGP I e II. É o caso da rede de prós para atendimento médico especializado: Pró-Mulher, Pró-Criança, Pró-Hiper (para a terceira idade) e Promeg (Programa de Medicamentos Gratuitos). Ou do moderno Centro de Controle de Zoonoses (até 2000, não havia um único médico veterinário no quadro da Prefeitura). Ou ainda da revolução que se processou na educação para acabar com os acampamentos de mães nas portas das escolas, em mendicância por atendimento. 

Vieram a construção de prédios e reforma dos existentes para ampliar em mais de 70% o número de vagas, a total modernização da rede escolar com recursos multimídia e espaços poliesportivos, a instalação de 43 creches, a criação do inédito Pró-Escolar para portadores de necessidades educacionais especiais, o mais completo Centro Municipal de Formação Pedagógica (Cemforpe) e o primeiro Centro de Programas Educacionais (Cempre) Dra. Ruth Cardoso para que meu sucessor iniciasse o período integral. Também como fruto do clamor popular, Mogi ganhou os parques urbanos Leon Feffer e Centenário. São só exemplos. 

O principal desafio é a continuidade do trabalho, iniciado em nossa primeira gestão como prefeito, de consolidação de um grande polo de desenvolvimento empresarial na Cidade, com a ampliação das empresas já existentes e instalação de novas unidades. Em especial, em áreas propícias, como o Distrito Industrial do Taboão. 

Para bancar investimentos nas mais diversas áreas, pusemos em prática a política municipal de desenvolvimento, também baseada em sugestão da população, e alavancamos a arrecadação municipal. Alguns efeitos: 8,2 mil novos empreendimentos com 115 mil empregos diretos e indiretos, Centro de Iniciação Profissional reformulado para atender 18 mil alunos por ano em mais de 60 cursos gratuitos (e não apenas dois como era), Banco do Povo e outras ações.

Mogi das Cruzes despontou entre as 100 cidades mais dinâmicas do Brasil, uma das mais bem administradas do País, uma das mais promissoras para trabalhar e uma das melhores do Estado para morar, segundo pesquisas de renomados institutos nacionais divulgadas na mídia. 

Além da geração de empregos, o crescimento econômico proporciona o aumento da arrecadação municipal. Isto é essencial tanto para os investimentos da Prefeitura nas diversas áreas como para concretizar parcerias com os governos federal e estadual. A liberação de recursos, por meio de financiamentos a longo prazo (são parcos os repasses a fundo perdido), destinados a qualquer obra ou programa da União ou Estado só ocorre se houver contrapartida do município. Portanto, se a Prefeitura não tem meios de bancar a contrapartida, a parceria não se viabiliza. 

"As melhores realizações da Prefeitura em todos os
setores foram semeadas pela própria comunidade"
Fato é que Mogi das Cruzes tem as potencialidades para enfrentar até o cruel período multicrises que faz estragos País afora. Temos motivos para nos orgulhar de ver a Cidade transformada num canteiro de obras e de realizações num momento em que a maioria dos municípios mal consegue bancar as despesas. A evolução mogiana tem tudo a ver com a gestão administrativa azeitada destes quase 16 anos. 

Sempre haverá muito o que fazer, porque o ser humano não se basta de desejar que tudo seja cada vez melhor. Fico satisfeito. Se fosse diferente, não haveria evolução. Enquanto olho para nossa incomparável Serra do Itapeti – que requer cuidados, como outros remanescentes de Mata Atlântica em nossa Cidade – celebro a força, a garra e a ternura da nossa poderosa menina Mogi das Cruzes. Parabéns, Mogi! Parabéns, mogianos – de nascimento e de coração! 

Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)