Como é importante
a relação humana, começando no seio da família e abrangendo parentes, amigos,
vizinhos e assim por diante! Nas famílias dos velhos tempos, como a minha, quando
morávamos todos sob o mesmo teto – avós, pais, irmãos e tios solteiros – esse sentimento
era permanente e foi extremamente benéfico. Muito mais que ensinamentos diários,
a conduta permanente de interação com os ancestrais, calou fundo em nossa alma
e moldou nossos sentimentos para a valorização das relações humanas.
Minha avó Makie esbanjava alegria e
atenção nos seus 1,50 m. de altura. Desde sua chegada ao Brasil em 1928, com o
vovô Tokuji e os filhos adolescentes (Izumi, meu pai; e Tiyoko, minha tia), ela
cuidava das finanças da família e, conforme os negócios na lavoura cresciam e
se expandiam, ela estendeu os cuidados financeiros do lar ao sítio e,
posteriormente, à fazenda Abe, no antigo Bairro de Biritiba Ussu (hoje,
Distrito), em Mogi das Cruzes/SP. Foi assim até a década de 1970. Apesar do seu
português sofrível, uma vez por semana, ela visitava as agências bancárias da
época, como as do Moreira Salles, América do Sul e Tozan. Resolvia
integralmente as demandas da fazenda. Era conhecidíssima, do gerente ao
porteiro, e sempre muito bem recebida.
Diante do fato, extraio o conceito e
o aprendizado de que simpatia e alegria, além de não custarem nadinha, abrem as
portas do sucesso em qualquer lugar ou circunstância. São alicerces da relação
humana. Porém, lamentavelmente não exercitadas por grande parcela da sociedade.
Transporto a importância da relação humana para o campo diplomático entre as
nações.
Além das vocações peculiares de cada
país, o intercâmbio internacional lastreado na amizade e nas relações multilaterais,
que envolvem todas as áreas do conhecimento humano, impulsionam o
desenvolvimento socioeconômico das nações. O Brasil figura entre os maiores
exportadores de produtos primários, como minérios, agropecuária, celulose e até
petróleo. Em contrapartida importa uma infinidade de produtos acabados e
insumos. Quanto mais prevalece uma boa relação diplomática, as transações
comerciais e transferência de tecnologia são exitosos, com menos burocracia.
Esta condição é cristalina.
O inverso também é sobejamente
conhecido e dificulta os interesses dos países. Vejam o caso do Brasil nas
vacinas contra o novo coronavírus. Ou importamos as vacinas prontas ou
precisamos importar os insumos e tecnologia de países como EUA, China, Índia e
Rússia.
Por mais que a relação diplomática
com os EUA, enquanto governado por Donald Trump, tenha sido boa, durante 2020,
o Brasil não conseguiu importar nenhuma vacina daquela nação. Isso não ocorreu com
a China, a maior parceira comercial do Brasil, que importa 60% da produção
nacional de soja, assim como minério de ferro.
Comentários e ataques com fundo
xenofóbico e de desprezo, lançados pelos nossos maiores mandatários, deterioraram
profundamente a relação diplomática com a China. E o estrago só não foi maior pela
dignidade das autoridades chinesas.
Ora, a primeira vacina contra Covid-19
aplicada no Brasil é da China. De lá vieram os insumos e a tecnologia para o
centenário Instituto Butantan, de São Paulo, produzir o imunizante
CoronaVac/Butatan-Sinovac. Também são chineses os insumos para a vacina
AstraZeneca, produzida na Índia e com 2 milhões de doses recebidas, com atraso,
no Brasil.
Alegando itens burocráticos, as indústrias
farmacêuticas estão demorando para exportação da vacina pronta e dos insumos destinados
à fabricação no Brasil. Por quê? Porque o sinal verde para exportação depende
do governo chinês. E agora? Observamos os brasileiros sem vacinas em quantidade
suficiente para a esperada imunização pelo SUS.
Vaidades, insensibilidade e
interesses diversos e extemporâneos de certas autoridades governamentais são as
causas do naufrágio brasileiro.
As boas relações humanas não diferem
das exercitadas no âmbito familiar, na sociedade e na diplomacia entre povos,
nações, governos e governantes. Elas são fundamentais e cada vez mais
imprescindíveis nesta aldeia global. Portanto, vamos dar as mãos e seguirmos
juntos sempre na mesma direção! #PazEBem
Junji
Abe, produtor e líder rural, é ex-prefeito de Mogi das Cruzes, na Grande São
Paulo