A maioria conhece
a importância de uma central de abastecimento de alimentos, como a Companhia de
Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São Paulo (Ceagesp) e outras menores,
como o Mercado do Produtor (Varejão ou Cobal), de Mogi das Cruzes/SP, onde são
comercializados, por atacado, produtos hortifrutiflorigranjeiros do Alto Tietê.
Atende feirantes e outros comerciantes varejistas com qualidade e despesas
reduzidas. Vale observar que a região depende da Ceagesp porque, por questões
climáticas, não é autossuficiente na produção de dezenas de produtos,
principalmente as frutas, como mamão, laranja, banana, melancia, manga, etc...
A gigante Ceagesp registra movimento diário de mais de 50 mil pessoas e 12 mil veículos. Há décadas, é o centro de discussão para mudança de localidade. Construída na década de 1960, no governo Carvalho Pinto, sofre os efeitos das grandes transformações urbanas da Capital paulista. As estruturas, a condição logística e de localização não condizem com as necessidades diárias de produtores rurais, transportadores, permissionários, atacadistas, varejistas e consumidores, além de afetar a população do entorno.
A Ceagesp foi concebida no tempo em
que os veículos para transportar hortifrútis, pescados e outros, eram de dois
eixos, com capacidade bruta máxima de 8 toneladas. Os caminhões deste século têm
de quatro a 12 eixos e comportam peso bruto de mais de 40 toneladas. Os
chamados chacareiros paulistanos da época utilizavam carroças puxadas por
animais para o transporte de suas produções. As vias circunvizinhas permitiam estacionar
sem congestionamentos nas regiões do Jaguaré e Leopoldina. As marginais
Pinheiros e Tietê não sofriam proibição de tráfego de veículos de carga por
longos períodos, como ocorre há mais de 15 anos. São algumas observações, dentre
dezenas que geram prejuízos incalculáveis à toda cadeia produtiva e se
agravaram a partir da década de 1980.
Desde os 6 anos de idade, acompanhava
meu pai Izumi ou o meu tio Sigeo no transporte diário de hortaliças da Fazenda
Abe, em Biritiba Ussu, para o Entreposto da Cantareira (centro atacadista da
época), ao lado do Mercado Municipal, no centro velho de São Paulo. Quando
conquistamos carteira de habilitação, eu e meu irmão Hidekasu assumimos a tarefa,
com percurso alterado para a recém-inaugurada Ceagesp.
Enquanto deputado estadual, em 1991,
na condição de presidente da Comissão Permanente de Agricultura e
Abastecimento, presidi a Comissão Especial de Desestatização da Ceagesp,
representando a Alesp. Após um detalhado e eficiente trabalho, consensual entre
os integrantes das comissões e com aval do governador Fleury Filho, a Ceagesp
estava engatilhada para mudança de local. Em 1995, o governador Mário Covas
frustrou a expectativa de transferência. Para reduzir o gigantesco deficit econômico,
o governo estadual relacionou a Ceagesp e todas as subsidiárias espalhadas pelo
Estado, juntamente com o Aeroporto Internacional de Guarulhos, e outros
patrimônios na lista de bens transferidos para o governo federal, como
abatimento da dívida. Foi lamentável, porém, necessário, diante de interesse
indiscutivelmente maior.
Como deputado federal (2011-2014),
integrante da Comissão Permanente de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e
Desenvolvimento Rural (Capadr) e da Frente Parlamentar Mista da Agropecuária
(FPA), além de presidente da Pró-Horti, trabalhamos intensamente em prol da
cadeia produtiva de alimentos, incluindo a desestatização da Ceagesp. (https://www.camara.leg.br/tv/417115-frente-parlamentar-de-hortifrutigranjeiros-comemora-dois-anos/?pagina=5).
Em 2019, já na gestão estadual João
Doria, a desestatização da Ceagesp voltou à pauta, com destaque da
transferência para local adequado, às margens do Rodoanel, com total
concordância do governo federal. Porém, assim como ocorre em meio à pandemia de
Covid-19, as desavenças de ordem político-eleitoral falaram mais alto e o
presidente voltou atrás. Em visita à Ceagesp, em dezembro de 2020, para
inaugurar a Torre do Relógio, o presidente aproveitou para escancarar sua
rejeição sobre a desestatização da Ceagesp. Em violento pronunciamento, o
mandatário nacional acentuou ainda mais sua contrariedade com quaisquer outros
interesses do governo paulista.
Aliás, o pronunciamento do presidente
da República contra a desestatização da Ceagesp foi tão viril e contundente que
sepultou, por ora, a aprovação do seu próprio governo que, por meio do
Ministério da Economia e demais órgãos subordinados, previam a privatização
para este mês de março (2021). Repito, foi uma decisão extremamente prejudicial
à cadeia produtiva de alimentos e à população.
Não temos a pretensão de julgar quem
quer que seja. Mas, como cidadão brasileiro, líder rural e profundo conhecedor das
centrais de abastecimento, sinto-me no dever de fazer um incisivo apelo aos
governantes: tenham sensibilidade e trabalhem visando o bem comum, deixando de
lado as vergonhosas desavenças de ordem político-eleitoral, porque tudo tem sua
hora certa para acontecer. Deixem as divergências de lado e concretizem a privatização
da Ceagesp, com as necessárias mudanças de que a companhia precisa para servir
com eficiência! #TrabalhoConjunto #SemPoliticagem
Junji Abe, produtor e líder rural, é
ex-prefeito de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo