Os brasileiros
são autênticos criadores de frases que se tornam famosas e caem na boca do
povo. É o caso da expressão “Tudo acaba em pizza”.
Será que a célebre
frase tem a ver com o Dia Mundial da Pizza, comemorado anualmente em 17 de
janeiro? O prato é símbolo da Itália e a data foi escolhida para homenagear o Sant’Antonio Abate.
Ou será que a expressão tem vínculo com o Dia Internacional da Pizza, celebrado
em 10 de julho?
As duas datas dão legitimidade à expressão “Tudo acaba em pizza”. Porém, no
Brasil, ela tem origem absolutamente diferente. A maioria entende que essa
expressão é umbilicalmente ligada ao mundo político e aos políticos. Estamos
carecas de saber que a maioria das matérias, análises, discussões, comissões,
votações e até brigas “acabam em pizza”, ou seja, não dando em nada.
Ledo engano. Na
verdade, a frase foi criada para estampar uma manchete do famoso jornal Gazeta
Esportiva, na década de 1960. O estupendo radialista de saudosa memória, Milton
Peruzzi, estava numa reunião da cúpula diretiva da Sociedade Esportiva
Palmeiras que, iniciada de manhã, perdurava noite adentro. Os palmeirenses passavam por sérias conturbações e
os dirigentes estavam há mais de 14 horas numa reunião acalorada para decidir o
futuro do time. Como é de conhecimento geral, o futebol gera, principalmente
nesse caso, quando a diretoria era dominada por italianos e descendentes.
Os diretores não se
entendiam e a fome bateu. Pediram 18 pizzas gigantes. E, claro, com muito chopp
e vinho para sustentar aquela jornada de debates. Após bate-bocas e a generosa
comilança, tudo foi resolvido e um acordo entre os dirigentes foi selado. Milton
Peruzzi publicou o resultado daquela reunião. No dia seguinte, o jornal Gazeta
Esportiva trazia a manchete “Crise do Palmeiras termina em pizza”.
Apesar da grave
crise que enfrentamos com a pandemia que multiplica óbitos e gera tragédias de
ordem econômica, financeira e social, no meio político, os acontecimentos
continuam acabando em pizza. Claro, com total repúdio da população. Basta citar
o acontecido semanas atrás com o governador fluminense em exercício, Cláudio
Castro (PSC).
Em 26 de março, Castro
fez um apelo à população do Rio: “Não é hora de fazermos festas. Tem muita
gente morrendo, muita gente na fila de um hospital. Esse é um feriado pra
ficarmos em casa. E queria pedir muito à população que evite aglomerações”. Porém,
dois dias depois, ele celebrou com
festa seu aniversário de 42 anos, em uma casa em Petrópolis, onde estava em
vigor o Decreto Municipal, válido até 4 de abril, com proibição expressa de
aglomerações de caráter social.
Em que pese a gravíssima irregularidade, cometida por uma autoridade pública,
num local superlotado de convidados – a maioria, sem máscaras –, a única
manifestação do governador, que também utilizou carro oficial, foi um modesto pedido de desculpas à população.
Punição zero. O evento marcado de irregularidades “acabou em pizza”.
Aliás, tomara que a
recém constituída Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Congresso Nacional
sobre as desastradas medidas governamentais contra a Covid-19 cumpra fielmente
seus objetivos. Tomara que não acabe em pizza!
Na imagem, saboreio
uma generosa pizza de muçarela que, felizmente, nada tem a ver com o mundo
político! #BomApetite
Junji
Abe, produtor e líder rural, é ex-prefeito de Mogi das Cruzes, na Grande São
Paulo