sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Dois machados

Dois machados. É assim que todo locutor de bingo costuma anunciar o número 77. Veio à minha cabeça porque o final de ano traz parte dos resultados de bingos e outros eventos beneficentes realizados ao longo dos meses por entidades filantrópicas. São brinquedos, alimentos e todo tipo de ajuda para os necessitados – humanos e animais. É a prova inequívoca de que há pessoas boas. Por trás do trabalho assertivo de organizações sociais, estão voluntários que não medem esforços. Empenham seu tempo e talento para tornar menos ácido o cotidiano de outros. Essa solidariedade imensa inunda hoje minha alma. E me faz ter um orgulho tremendo de ser parte de uma sociedade onde os cidadãos de bem ainda erguem a voz.

77 para mim, hoje, é idade. Nasci em 15 de dezembro de 1940, na fazenda dos meus pais, na zona rural de Mogi das Cruzes. Precisamente, no atual Distrito de Biritiba Ussu. Sou um homem da Terceira Idade, casado com minha amada Elza, pai de Juliano, Daniela e Mariana, avô de Enzo, Bebel, Matheus, Junjinho, Anna Mai, Sophia e Raphael , sogro de Takeshi e da Renata.

Mesmo assim, sinto-me um menino. Não é porque tinjo os cabelos nem porque sou regrado com comida. Talvez, seja porque me entrego à alegria pueril quando vejo crianças brincando no Parque Centenário que tive a felicidade de implantar enquanto prefeito. Ou me embalo nas canções dos Canarinhos do Itapeti, que completaram 15 anos, oferecendo ao País uma seleta safra de novos músicos. Ou ainda ao circular pelo tão aclamado Pró-Hiper que construímos para ser um templo de ação, socialização e saber destinado aos veteranos. Ou reencontro mamães atendidas no Pró-Mulher, com filhos igualmente acolhidos na moderna rede de novas escolas, dotadas de bibliotecas multimídia e espaços poliesportivos, além de ensinados por educadores aprimorados no Cemforpe.

Tantas coisas me emocionam... Até a dádiva de ter aprendido (e continuar aprendendo) a lidar com as novidades da era cibernética. Da escrita, sob a luz de lampião, ao texto que faço surgir no laptop, muito tempo se passou. E me orgulho de haver acompanhado este serelepe chamado tempo. Do telefone sem fio que a gente fazia em casa com potes velhos ao WhatsApp, Facebook, Instagram e tudo mais, na onda da internet, são avanços deliciosos para um idoso como eu.

Hoje, mais que nunca, faço um manifesto de gratidão. A Deus, a minha família e aos amigos de verdade que tenho a honra de cultivar. Afinal, o que seria a vida sem as pessoas maravilhosas que a gente cativa e por quem se deixa cativar? Ao atingir certa idade, o futuro vai deixando de ser uma estrela desesperadamente caçada. Ele passa a morar no minuto seguinte. E isso é formidável! A gente não faz um número maior de planos. Passa a executá-los com maior rapidez e qualidade.

Às vezes, me perguntam se tenho medo de envelhecer. Resposta? De jeito nenhum. Tenho medo de esfriar, de endurecer como humano e de não mais me sensibilizar com pequenas coisas. Sim, tenho medo de não me importar, de não sentir. Enquanto me permito ao turbilhão de emoções, tudo está bem. E sempre há de ficar melhor, com as bênçãos de Deus! Hoje, ainda mais. Ao ouvir o locutor anunciar “Dois Machados”, quero gritar bem alto: Bingo!!!
Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008).