quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Como diminuir a violência?

A maré de violência se alastra por todo o País, com um aparato sem precedentes bancado pelo narcotráfico, que redesenhou o perfil da criminalidade ao longo dos últimos 15 anos. Essa rede, endinheirada e armada, encontra na miséria um campo próspero para multiplicar seus elos. Enquanto famílias se decompõem, crianças e adolescentes são presas fáceis do vício. Muitos dependentes viram traficantes. Também é moleza para a bandidagem recrutar agentes entre os desempregados.

Tem mais. Parte da sociedade civil organizada cede à tentação do lucro fácil. Participa de contrabando, lavagem de dinheiro e outras incursões no submundo. Não bastasse, há autoridades e políticos que faturam “caixa 2”, aceitam propina, concedem privilégios e até negociam sentenças judiciais. Para piorar, quase tudo desfila sob o manto da impunidade.

Se a corrupção mina a sociedade, é difícil negar que produza mazelas na atuação de uma pequena parcela de funcionários contratados para zelar não só pela segurança pública, mas também por outras áreas. Há uma efervescente podridão dissipada na sociedade. Assim, presos usam celulares, alguns agentes aceitam suborno ou praticam extorsão e por aí afora.

Cidadãos de bem viram reféns do crime organizado. Mais do que lamentar a sucessão de tragédias, é preciso agir. E rápido. A gradativa reversão desse quadro e o consequente resgate dos referenciais de moral e ética dependem de duas frentes simultâneas de trabalho. Uma sob a batuta do Poder Público. A outra cabe a cada um de nós, cidadãos.

Falando da primeira, é preciso uma grande reforma política abrangendo os poderes Executivo e Legislativo, incluindo questões como fidelidade partidária, fim da reeleição, coincidência de eleições, duração dos mandatos limitada a cinco anos e redução do número de partidos políticos – dos atuais 30 para, no máximo, cinco. Isso neutralizaria o risco de políticas inadequadas, fruto da cobiça pela permanência no poder. Ninguém mais confundiria cargos eletivos com profissão, pois desempenhar a função pública eletiva é essencialmente um sacerdócio.

Só assim teríamos as legítimas reformas que o País precisa nos campos tributário, previdenciário, trabalhista, entre outros, para crescer com justiça social. Isso evitaria também que a relação entre Executivo e Congresso fosse similar a de um balcão de negócios.

Paralelamente, a melhoria da segurança pública exige o trabalho conjunto do governo, nas três esferas. Significa não só aprimorar a atuação das Polícias e o sistema prisional, mas também empreender ações contínuas para prevenção da violência. Como exemplo, cito o trabalho desenvolvido ao longo dos oito anos em que exerci o cargo de prefeito de Mogi das Cruzes. Investimos pesado na educação e no desenvolvimento social, focando ocupação saudável para os menores, incentivo à cidadania e o cultivo da religiosidade.

Visando preencher o tempo ocioso de crianças e adolescentes, estruturamos a rede municipal para que nosso sucessor iniciasse o período integral nas escolas. Os primeiros resultados têm sido excelentes. Além do conteúdo curricular, os alunos permanecem na escola aprendendo artes, praticando esportes e desenvolvendo outras atividades importantes para sua formação pessoal. Ou seja, deixam de ficar à mercê da criminalidade. Este programa também completa a lacuna gerada pela proibição legal do trabalho antes dos 16 anos de idade. Inserido na Constituição para incentivar os menores a estudar, o dispositivo não teve o devido respaldo em investimentos públicos na educação e acabou por instituir-lhes o ócio no horário livre das aulas.

Mas, isso tudo não basta. A derrocada do império da violência exige o empenho de cada indivíduo, partindo do ajuste dos laços com sua família. Tem de dar carinho, dialogar, investir no bem-estar emocional de quem mora com você. É nesse ambiente que se consolidam valores morais. Também é em casa que o ser humano começa sua relação com Deus. Independe da religião. O essencial é a presença de Deus na família. Assim, se aprende a ter fé. E isso faz toda diferença quando chega a hora de lidar com este mundão aqui fora.

Junji Abe é ex-prefeito de Mogi das Cruzes

3 comentários:

  1. Nao o conhecia mas me encantei com seu texto.Concordamos em tudo(exceto na questao religiao)Vou acompanhar seu trabalho daqui em diante com atençao.Sou paulistana(30 anos em Sao Paulo) exilada no MS. que é um estado ainda mais brutal que o interior de SP.Imagino com nao será nos outros estados do norte por exemplo.O trabalho é gigantesco..mas acreditar em homens ainda é possivel.

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  2. O fato relevante no texto é a atuação da Prefeitura de Mogi das Cruzes com foco na criança e na família. O resto, já se sabe às escancaras e nada se faz, principalmente, quando o tema é polícia, policiais e políticas públicas para segurança.

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  3. Ola Prefeito,sempre prefeito.
    A Saude Publica tambem tem sua influencia,investir em planejamento familiar,dando as familias condicoes e educacao em saude ,para que possam oganizar o sonho da maternidade a sua realidade financeira,evitando assim a sobrevida,as muitas formas de lutar pela vida,muitas delas indo alem dos limites do bom carater e da boa moral.
    O aproveitamento das pracas e ares de lazer publicas e coletivas ,onde a propria comunidade possa estar criando os gremeos, atividades espotivas ,dando a comunidade o estimulo e a educacao para cuidar daquele espaco e criar novos atletas.
    Atraves das campanhas de Saude Publica tambem podemos resgatar familias e jovens.
    Os encontos ecumenicos em praca publica com bandas ajudam a despertar o amor e a fe.
    Um gande abraco
    Dr Andrea

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