quinta-feira, 9 de julho de 2015

Epidemia do tabaco

Num País onde o sistema público de saúde é tão deficitário que pode deixar uma gripe virar pneumonia, tudo capaz de induzir a doença e comprometer o bem-estar precisa ser combatido. Um dos males que adoece e mata com voracidade é a droga lícita chamada cigarro, vício de aproximadamente 1 bilhão de pessoas no planeta. 

"Enquanto um fumante consome um cigarro, outros 60 já morreram"
A cada seis segundos, alguém morre, em algum lugar do mundo, de doenças vinculadas ao tabaco. Enquanto um fumante consome um cigarro, outros 60 já morreram. São cerca de 6 milhões de mortes por ano. O número anual de vidas perdidas deve chegar a 8 milhões até 2030, se não for controlada a “epidemia do tabaco”. O alerta da OMS (Organização Mundial de Saúde) foi divulgado nesta semana.

Se existe um consolo, é saber que o Brasil está na lista dos 33 países que fixaram impostos de 75% sobre o preço do maço de cigarros, uma medida recomendada pela OMS. Encarecer o produto é uma estratégia que vem se mostrando eficiente. Entre 2006 e 2013, o número total de usuários no País caiu 28%. Neste período, a taxação subiu 116% por maço. Os dados são da Pesquisa Internacional de Tabagismo, coordenada pela Universidade de Waterloo (Canadá), aqui e em outras 19 nações. 

Porém, dados do Ministério da Saúde mostram que o tabagismo ainda causa perto de 200 mil mortes por ano no Brasil. O índice de fumantes gira em torno de 11,3% da população brasileira contra os 15,7% de nove anos atrás. Na verdade, os efeitos da redução na incidência de enfermidades relacionadas ao tabaco só aparecerão daqui uns 20 anos. Segundo especialistas, quem para de fumar hoje demora este prazo até apresentar risco próximo ao de uma pessoa que nunca usou a droga.

Além da taxação gorda sobre o cigarro, que o torna economicamente menos acessível, a queda na venda do produto também reflete outras ações no combate ao tabagismo, como as restrições à propaganda e ao patrocínio, além das proibições impostas pela Lei Antifumo.

Não pode fumar no ambiente de trabalho, em locais públicos – mesmo que parcialmente abertos –, em veículos públicos ou privados de transporte coletivo, em açougues, farmácias, supermercados, padarias, igrejas, casas de entretenimento, bares, restaurantes e similares, áreas comuns de clubes e condomínios, enfim, em quase lugar nenhum. Ao ter cada vez menos espaço para saciar o vício, a pessoa acaba largando o cigarro. Conheço muita gente que aboliu o tabaco da sua rotina por causa do preço alto e do rigor da legislação.

Esses avanços não livram o País da responsabilidade de melhorar sua estrutura de tratamento aos dependentes do tabaco. O fumo é um dos quatro principais fatores de risco por trás de doenças não transmissíveis. Envolve a maioria dos tipos de câncer, doenças cardiovasculares e pulmonares, e diabetes. Tratam-se de enfermidades que, em 2012, mataram 16 milhões de pessoas com menos de 70 anos de idade. 

Mais de 80% dessas mortes ocorreram em países pobres ou de renda média. Daí a necessidade de programas contínuos para ajudar os fumantes a abandonarem o vício. Caso contrário, os doentes do cigarro vão sobrecarregar ainda mais a tão deficitária rede pública de saúde.

Mogi das Cruzes, por exemplo, tem um eficiente Programa de Combate ao Tabagismo. Desenvolvida pela Prefeitura, a iniciativa propicia aos fumantes a oportunidade de largar o vício. O interessado só precisa inscrever-se numa Unidade Básica de Saúde de referência ou diretamente na Secretaria Municipal de Saúde. Portanto, quem é fumante e deseja dar um basta no cigarro encontra amparo. 

Contudo, as ações do poder público precisam de um importante aliado chamado família. Pelo menos 7 em cada dez fumantes, caíram no vício enquanto ainda eram adolescentes. Os pais têm de exercer seu papel de orientar os filhos para a vida. Evidente que devem começar dando o exemplo em casa. Fica difícil convencer alguém a não usar tabaco quando se é um usuário. Vale todo esforço. Esta é uma questão de saúde e bem-estar.

Não falo como moralista de gaveta e nem como alguém que nunca teve um vício sequer. Fui fumante décadas atrás. Eram dois maços por dia e, de tão viciado, não conseguia dormir sem um cigarro nos dedos. Cheguei até a queimar o colchão e, por pouco, isto não virou uma tragédia com incêndio de grandes proporções. Parei de fumar naquela noite.

Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)

Nenhum comentário:

Postar um comentário