quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Juventude antenada

Muitas vezes, ouvi dizerem que adolescentes e jovens da atualidade costumam ser alienados e pouco se importam com os rumos da sua cidade, Estado e País. Estou feliz em afirmar que não é verdade. Dois fatos recentes provam que, se desafiada, a juventude responde com intensidade e competência. 

Um dos acontecimentos se deu no cenário doméstico para a elaboração do Plano Diretor Municipal da Juventude de Mogi das Cruzes, que traz o planejamento de políticas públicas específicas para os jovens nos próximos 10 anos. A comunidade com idades entre 15 e 29 anos respondeu ao chamado do Conselho Municipal da Juventude. Nada menos que 55 mil jovens participaram das audiências promovidas em 60 escolas estaduais de Ensino Médio da Cidade. Do movimento, surgiram centenas de propostas. Destas, 300 foram acolhidas no documento a ser submetido à aprovação da Câmara Municipal.

"Dois fatos recentes provam que, se desafiada, a juventude
responde com intensidade e competência."
Além de apontar demandas como incentivo a novas chances de primeiro emprego, mais vagas em cursos de ensino profissional e tecnológicos, passe livre ou parcial no transporte coletivo para permitir a frequência em iniciativas de aprimoramento educacional ou profissional e abertura de prédios públicos para atividades esportivo-culturais e de lazer nos finais de semana, os jovens provaram que desejam interferir com a política. Cobraram ferramentas para ampliar sua participação nas decisões do poder público.

Isso ocorre num momento de extrema fragilidade da classe política, inundada pela falta de credibilidade sob a sucessão de condenações judiciais e de denúncias de corrupção. É, portanto, meritório ver a juventude interessada em colaborar com a Cidade na expectativa de ajudar a reverter o quadro deplorável de desesperança na política brasileira. Ponto para os jovens que responderam “presente”. Ponto para o prefeito Marco Bertaiolli que incentivou a participação e acolheu as manifestações. Ponto para a sociedade que só tem a evoluir com a efetiva inserção da juventude na definição e condução das políticas públicas.

O outro acontecimento movimentou jovens do Estado inteiro. Tudo começou com uma iniciativa que deveria ser nobre, mas virou um fiasco por causa de como foi conduzida. Falo da proposta de reorganização escolar. O foco da Secretaria Estadual de Educação, proveniente de longa pesquisa, era ajustar a realidade do ensino no mundo atual. Visava preparar crianças e jovens para as jornadas futuras da vida profissional. A meta anunciada era aumentar o número de escolas, divididas por ciclos e por idades. Assim, aprende-se melhor, especializa-se mais, fiscaliza-se melhor, evitam-se conflitos, agressões e bullying. 

Ocorre que o, então, secretário estadual mandou bala na ideia, sem discutir o tema com a sociedade. Ignorou o que pensavam alunos, professores e pais. Pior, colocou no pacote o fechamento de escolas. Talvez, não esperasse tamanha mobilização popular que levou para as trincheiras os jovens que muitos diziam ser alienados. Eles ocuparam centenas de unidades escolares e enfrentaram, de peito aberto e cabeça erguida, a polícia mais poderosa do País, enviada pelo Estado para desocupar os prédios, numa tentativa de dissipar o imbróglio que ele mesmo criou. 

A bravura e determinação dos jovens paulistas fez o governo desistir da reorganização escolar. E mais: inspirou as pessoas. Tanto, que em Mogi das Cruzes foi constituída uma associação para combater eventuais novas tentativas de fechar estabelecimentos de ensino. O movimento chamado “Nossas Escolas, Nossos Direitos” é o pulso da sociedade tomando a defesa dos direitos adquiridos. Tornou-se a cereja do bolo da mobilização popular em torno do assunto. Àqueles de pouca fé, fica a lição de que, às vezes, coisas ruins despertam coisas muito boas. É o caso da juventude antenada. 

Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)

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