sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Voz do campo

 

Alguém já disse que, em algum momento da vida, necessitamos de um médico, engenheiro ou advogado, entre outros profissionais; porém, no mínimo três vezes ao dia, precisamos do produtor rural. É ele que, diariamente, sob sol ou chuva, põe comida em nossas mesas.


Um dos instrumentos indispensáveis à continuidade dessa meritória tarefa é a capacitação profissional. Significa acesso ao aprendizado e à tecnologia por meio da assistência técnica e extensão rural aos míni, pequenos e médios produtores rurais, em especial. É dever de estado, mas os trabalhadores da agricultura familiar produzem alimentos, sem receber apoio dos governos. No Brasil, somente 20% dos produtores dessa categoria têm assistência técnica e extensão rural advindos dos órgãos públicos. Uma verdadeira lástima!


Faço essa introdução para registrar o apelo ao Governo do Estado de São Paulo e a sua Secretaria de Agricultura e Abastecimento para que não exterminem as Casas da Agricultura e os Escritórios de Defesa Agropecuária (EDA) e de Desenvolvimento Rural (EDR). Em especial, nas regiões conhecidas há décadas como cinturões verdes, fontes de abastecimento do Estado e do Brasil. Em que pese a precariedade do atendimento que oferecem hoje, essas estruturas são indispensáveis para o setor agrícola. Infelizmente, de muitos anos para cá, os poucos valorosos profissionais desses órgãos públicos, por insensibilidade governamental, acabaram reduzidos a carimbadores de relatórios, afastados da ação em campo.


Uma pequena amostra do que o desmonte dessas estruturas impactará está em Mogi das Cruzes, na região do Alto Tietê. A Cidade é uma gigante no cenário agrícola nacional. É a maior produtora brasileira de caqui, nêsperas, cogumelos e orquídeas, além de liderar a produção estadual de folhosas, reunindo pequenas propriedades com culturas diversas, inclusive pecuária de leite, caprinos e aves.



Com a justificativa de enxugar e modernizar a máquina pública, o secretário da Agricultura, Gustavo Junqueira, quer extinguir boa parte das 580 Casas da Agricultura. Afirma que apenas 240 funcionam e destas, metade apresenta estrutura precária. No caso dos EDA e EDR, dos atuais 80, sobrarão 32 e 16, respectivamente.


Quanto à modernização, o secretário e sua equipe pregam o avanço tecnológico como base para continuar oferecendo, pela internet, assistência técnica e extensão rural. Como assim, cara pálida?! Só 10% da região produtora paulista possuem sinal de internet. Para completar, a maioria dos produtores acima de 50 anos não domina essa ferramenta.


Junto-me às lideranças políticas e classistas do Estado na luta pela reversão da infeliz ideia. No mínimo, esperamos a discussão civilizada sobre o tal programa de reestruturação e modernização para não degringolar a heroica classe produtora de alimentos.


Nos últimos 30 anos, o governo paulista, escandalosamente, vem transferindo seu dever de estado para os municípios. Basta constatar que a assistência técnica e extensão rural vêm sendo desempenhadas junto aos produtores pelo Serviço de Aprendizagem Rural (Senar) e Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), em parceria com Sindicatos Rurais e prefeituras.


Governador João Doria e secretário Gustavo Junqueira: escutem a voz do campo, dos míni, pequenos e médios produtores rurais, representados por suas entidades classistas e lideranças rurais! Ouçam o apelo destes guerreiros silenciosos que, diariamente, abastecem os centros urbanos e só rogam por uma migalha de atenção, materializada na manutenção das poucas estruturas dedicadas à capacitação profissional e serviços ao agricultor! #MaisRespeito #ServiçosAoAgricultor


Junji Abe, produtor e líder rural, é ex-prefeito de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo

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