sexta-feira, 2 de maio de 2014

Pura irracionalidade

Nossos governantes carecem de racionalidade. Vejamos a agricultura. Na época em que ela sustentava tudo, cuidavam do setor com extremo zelo, o oposto do que fazem hoje. Preocupavam-se com pesquisas, assistência técnica e extensão rural, enfim, com a formação do agricultor. 

O Estado de São Paulo comprova isso. Criou estruturas formidáveis, como o IAC (Instituto Agronômico de Campinas), de extrema importância em pesquisas e inovações tecnológicas. Cabia às antigas Casas da Lavoura qualificar os agricultores. Extensionistas percorriam lavouras para ensinar tratos culturais, tornando a atividade produtiva e rentável. Os agrônomos conviviam com os agricultores. O próprio governo estadual motivava os produtores a se unirem em entidades que permitissem o fortalecimento dos pequenos.

A chegada dos imigrantes japoneses, associada à forte rede de assistência e extensão rural, impulsionou a policultura (produção de diversos itens na mesma área), reduzindo a monocultura. O agricultor precisava sair do plantio de um único produto. Bastava uma geada, seca ou invasão de pragas para ele perder toda a produção. Isto não ocorreria se ele tivesse vários tipos de plantação ou criações.

Por mais importante que seja, o grito da terra foi perdendo potência para o brado das cidades, onde está a grande densidade eleitoral (leia-se votos). Os governantes passaram a pensar cada vez menos no País e muito mais no poder político. Assim, deixaram a policultura sucumbir à monocultura (e suas commodities) da cana de açúcar – em plena crise, para desespero de toda cadeia produtiva –, da citricultura – onde os produtores não tem mais para quem vender porque grandes indústrias têm os próprios pomares – e assim por diante. De quebra, deceparam a orientação no campo.

A extinção da Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural foi uma desastrada medida do governo Collor que massacrou os pequenos. No território paulista, a rede de difusão de conhecimentos no campo deu lugar à transformação de agrônomos, veterinários, zootecnistas e técnicos agrícolas em carimbadores de papel, mal remunerados, e distantes dos produtores. Um sacrilégio contra gente tão competente e esforçada.
"82% dos pequenos produtores permanecem excluídos do acesso às
inovações que a Nação desenvolve, mas não faz chegar ao campo"

Em dezembro, com muita pressão, aprovamos a criação da Anater (Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural). O revoltante é que, até agora, o governo não tirou a instituição do papel. Na prática, 82% dos pequenos produtores permanecem excluídos do acesso às pesquisas e inovações que a Nação desenvolve, mas não faz chegar ao campo. Pura irracionalidade!


Junji Abe é deputado federal pelo PSD-SP

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