quinta-feira, 28 de maio de 2015

Capital Humano na UTI

"Somos um fiasco no preparo do nosso capital humano,
considerado o grande ativo de uma nação."
Em meio à crise econômica e às tentativas de ajuste fiscal, associadas ao mergulho radical no lodo da corrupção, mais uma notícia nada alvissareira pousa no Brasil. Somos um fiasco no preparo do nosso capital humano, considerado o grande ativo de uma nação. 


Relatório sobre o Capital Humano é o estudo do Fórum Econômico Mundial, que mede o quanto os países incentivam seus cidadãos a potencializar talentos para seu desenvolvimento profissional. O Brasil aparece no ofensivo 78º lugar entre os 124 analisados. Caiu 21 posições em relação ao ranking anterior. 

Se achou mortificante, saiba que a coisa piora. O Brasil tomba feio na medição da performance no preparo dos menores de 15 anos e amarga o sofrível 91º lugar. Motivo? Não basta as crianças estarem na escola. É preciso que saiam bem preparadas do ciclo básico. O estudo prova que isto não acontece. 

O Brasil, que desfila como sétima ou oitava economia do mundo, é o 13º país latino-americano/caribenho no que se refere aos cuidados com seu capital humano. Está atrás do Chile (45º), Uruguai (47º), Argentina (48º), Panamá (49º), Costa Rica (53º), México (58º), Peru (61º) e Colômbia (62º). Perde também para – pasme! – El Salvador (70º), Bolívia (73º), Paraguai (75º) e Barbados (77º).

A Finlândia subiu do segundo para o primeiro lugar. Em seguida, vêm Noruega, Suíça (líder no relatório de 2013), Canadá e Japão. É consenso que a boa educação sustenta uma nação consciente de seus direitos e deveres e que, por seu intermédio, o indivíduo é capaz de construir o melhor para si e para seu país. No Brasil, não existe educação de qualidade para todos, o que impede o exercício da cidadania por grande parte da população.

Ao longo do século 20, a sociedade passou por transformações imensas, e a escola não conseguiu acompanhá-las, com a celeridade necessária. As crianças brasileiras chegam à idade escolar em condições absolutamente desiguais, haja vista a diversificação dos ambientes em que transitam e as diferentes oportunidades que lhes são oferecidas. O Brasil ampliou o acesso à escola, mas não preparou o sistema educacional para receber a diversidade.

A escola precisa aparecer como um ambiente de oferta plena do conhecimento e de valorização multicultural para que a educação escolar possa ocorrer de forma eficaz, de modo a reduzir os déficits culturais, a preparar nossas crianças e jovens para a existência cidadã, para a edificação de uma nação efetivamente justa, livre e solidária.

Questões como período integral, importância do ambiente familiar, educação inclusiva, estruturas adequadas das escolas, formação continuada e melhor remuneração para profissionais da área têm de ser incluídas no debate para que sirvam de âncora às políticas educacionais. 

Não se pode falar em educação de qualidade sem que crianças e adolescentes frequentem a escola em tempo integral, sem que tenham acesso ao ensino amplo e significativo, sem que sejam respeitadas em seus saberes, sem que compartilhem experiências. E sem que, além do conhecimento sistemático, pratiquem atividades esportivas e culturais, como meio de lazer, interação e ocupação. 

É imprescindível que haja tempo integral, além de professores em número suficiente, qualificados e bem remunerados; prédios adequados; e boa alimentação. É a forma segura de garantir a informação de qualidade, de promover a igualdade, de preparar os aprendizes para lidar com múltiplas linguagens, com novas tecnologias e, também, de livrar nossos jovens da ociosidade nas ruas, onde são presas fáceis das drogas e da violência.

Não sou bairrista, mas o desenvolvimento nacional do ensino público com qualidade deveria ter como exemplo a celeridade da nossa Mogi das Cruzes, que tem 50% das escolas em período integral – com alunos e pais super satisfeitos – contra a média nacional de 10%”.

Tornar possível essa realidade é dever de todos. Principalmente, do poder público. Se não nos mobilizarmos já para reverter a vexatória condição brasileira na educação, estaremos fadados a conviver com nosso capital humano na UTI. E não haverá desenvolvimento econômico que dê jeito. Vale frisar que a potente China aparece no 64º posto no ranking. É rica, mas não cuida com dignidade do seu principal ativo. Fica a lição do relatório: “O talento, e não capital, é o fator-chave para ligar inovação, competitividade e crescimento no século 21”.



Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)

Crédito da foto: Arquivo/Cláudio Araújo

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