sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Efeito bumerangue

O Brasil é o quinto país mais violento para as mulheres num ranking de 83 avaliados pela Organização Mundial de Saúde. A taxa de homicídios contra a população feminina cresceu 8,8% entre 2003 e 2013. Significa que, no período, 11 foram assassinadas por dia. Pior é que mais da metade delas (50,3%) foi morta por um familiar. Em 33,2% dos casos, o feminicídio foi praticado pelo próprio parceiro ou ex-parceiro. 

Os dados constam do “Mapa da Violência 2015 – Homicídios de Mulheres no Brasil”, coordenado pelo sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz e divulgado pela Flacso/RJ (Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais). A situação catastrófica não é peculiaridade de regiões distantes das capitais. Aqui no Alto Tietê, seis dos dez municípios estão entre os mil com mais casos registrados no País. Em nossa Mogi das Cruzes, foram 30 assassinatos femininos entre 2009 e 2013.

É bem verdade que o aumento da taxa de homicídios contra mulheres reflete o avanço generalizado da violência em todo o País. Isto não muda a urgência de aperfeiçoar medidas capazes de inibir os assassinatos femininos. Um dos pontos cruciais é conscientizar a mulher para que denuncie a agressão sofrida. Hoje, o crime foi bater; amanhã, pode ser matar. 

É dever do poder público garantir o acesso à rede de proteção feminina. O assunto sempre esteve entre minhas prioridades na vida pública. Enquanto deputado estadual, por exemplo, participei ativamente das ações para viabilizar a instalação da Delegacia de Polícia de Defesa da Mulher em Mogi das Cruzes, efetivada em 8 de julho de 1991. Como prefeito, acolhi as solicitações das autoridades de segurança pública do Estado para, com recursos do orçamento municipal, concretizar o novo prédio da unidade, inaugurado em 18 de abril de 2006 no Parque Monte Líbano, onde está até hoje. 

Ao mesmo tempo, é imprescindível combater a impunidade. Há legislação boa, com foco na proteção das mulheres, como a Lei Maria da Penha e a Lei do Feminicídio (assassinato de mulheres derivado de violência doméstica), sancionada em março último. Contudo, a velocidade do Judiciário não ajuda no processo de intimidar os criminosos. A demora só intensifica o entendimento de que o malfeitor acaba impune.

O coordenador do estudo apontou o machismo como o principal responsável pela maioria dos assassinatos cometidos contra as mulheres no Brasil, que tem uma sociedade extremamente patriarcal. Até pouco tempo atrás, havia justificativa legal para o homem matar uma mulher que o traísse. Concordo que é necessário vencer barreiras culturais para possibilitar a evolução equilibrada da sociedade. Mas, não compactuo com o conceito de que todo homem é um ser desprezível que, na primeira oportunidade, oprimirá a mulher. 

Tenho visto nas redes sociais uma onda crescente de propagação de ódio às diferenças de gênero. Começou com as pregações contra homossexuais, avançou contra a população trans e, há algum tempo, contra os homens. É preciso cautela para evitar a generalização indevida das pessoas. Antes de tudo, somos seres humanos, dotados de virtudes e defeitos. 

Sou um admirador declarado das mulheres e suas habilidades incríveis, como o sexto sentido – invariavelmente, certo, ainda que não saibamos bem por que –, a extrema sensibilidade e a capacidade multifuncional – fazem diversas coisas ao mesmo tempo, sem se perderem. Defendo que tenham os mesmos direitos, oportunidades e salários que os homens. Isto não faz de mim um feminista. Até porque, creio que o público masculino também tem seus méritos. 

"Sua intolerância de hoje pode ser a mesma
 de alguém contra vocês amanhã."
Podem me chamar de retrógrado ou até me acusar de machista. Mas, ainda acho que determinadas atitudes são deveres do homem. Por exemplo, abrir a porta do carro para uma dama entrar ou sair, carregar o saco de lixo pesado para fora, colocar as compras pesadas para dentro, consertar o chuveiro que pifou, abrir pote com tampa emperrada, matar o rato que entrou no motor da máquina de lavar, desentupir a tubulação de esgoto e outras. Não que a mulher esteja impedida de desempenhar essas tarefas. Mas, em princípio, elas são obrigações de homem. Pronto, comecem a arremessar os dardos! Mas, lembrem-se do efeito bumerangue: sua intolerância de hoje pode ser a mesma de alguém contra vocês amanhã.

Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)

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