quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Foco na qualificação

Não basta a recuperação econômica do País, com a retomada do volume de negócios, da geração de empregos e da arrecadação. É vital que as pessoas estejam preparadas para as exigências do mercado de trabalho. Caso contrário, persistirá o fenômeno identificado como apagão da mão de obra qualificada, marcado pela oferta de vagas sem candidatos com habilitação para preenchê-las. A falta de investimentos públicos em qualificação profissional ainda é um dos grandes gargalos nacionais. 

O caso de Mogi das Cruzes é um bom exemplo. Quando assumi a Prefeitura em 2001, o CIP (Centro de Iniciação Profissional) oferecia parcas 280 vagas em apenas dois cursos, em endereço único. Reformulamos o processo para multiplicar opções de acordo com as demandas do mercado e ampliar o número de beneficiados. Encerramos a gestão, em 2008, atendendo 18 mil pessoas por ano em mais de 80 cursos gratuitos, disponibilizados em três pontos fixos – Mogilar, Vila Natal e Braz Cubas –, e dezenas de outros descentralizados realizados em entidades da sociedade civil. 

Ainda no campo da qualificação profissional, vale destacar a importância da atuação de unidades como o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) mogiano e a agência regional do Sebrae-SP (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), além de programas do Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) que tive a satisfação de implantar, enquanto presidente do Sindicato Rural de Mogi as Cruzes. 

Abro parênteses para falar um pouco da chegada da agência do Sebrae-SP ao solo mogiano. Foi uma longa batalha até que, em 1996, como deputado estadual, recebi o apoio do saudoso governador Mário Covas a fim de que a unidade viesse para a Cidade. Até então, o atendimento ao Alto Tietê concentrava-se em São José dos Campos. Isto impulsionou de forma inédita uma extensa gama de cursos voltados ao empreendedorismo em todas as atividades econômicas e, principalmente, programas de profissionalização dos agentes do mercado informal que se transformaram em microempresários mogianos. 

Já em meu tempo como prefeito, a administração municipal também criou um PEQ (Posto de Emprego e Qualificação) para agilizar a oferta e colocação de mão-de-obra conforme as demandas dos empreendedores. A Cidade já tinha uma Etec (Escola Técnica). Ganhou uma Fatec (Faculdade de Tecnologia), uma Intec (Incubadora Tecnológica) e uma unidade do Banco do Povo para garantir crédito a juros mínimos aos microempreendedores, muitos deles surgidos de cursos do CIP. Durante anos, a instituição mogiana foi a campeã estadual em número de contratos formalizados.
"É preciso estar preparado para quando
as empresas voltarem a contratar"
A perfeita simbiose estabelecida entre Prefeitura e instituições como o Sebrae-SP, associada à execução de uma bem-sucedida política de desenvolvimento empresarial e incentivo à qualificação profissional, fomentou o crescimento industrial, oxigenou comércio, impulsionou o setor de serviços e fortaleceu o agronegócio, consolidando posições de vanguarda da Cidade na produção de hortifrútis e flores. 

Sintetizando, esse trabalho fez de Mogi das Cruzes – proporcionalmente à densidade populacional – uma campeã na constituição, implantação e ampliação de empresas, levando a Cidade a despontar entre as que mais geraram empregos no Brasil, além de figurar no ranking nacional das 100 mais dinâmicas, ser catalogada como uma das mais bem administradas do País, uma das mais promissoras para trabalhar e uma das melhores do Estado para morar. 

Mogi ganhou cerca de 8,2 mil empreendimentos, entre indústrias, prestadores de serviços e estabelecimentos comerciais. Não por menos, é reconhecida pelo Ministério do Trabalho como um dos municípios que mais geraram empregos no País, no período de 2001 a 2008. Foram cerca de 115 mil, entre diretos e indiretos.

O atual prefeito Marco Bertaiolli (PSD) deu continuidade aos avanços carimbados pela Cidade. Ampliou investimentos em cursos de qualificação profissional básica, por meio do Crescer (Centro Municipal de Apoio à Educação de Jovens e Adultos), que atende em quatro endereços (Centro, Braz Cubas, Vila Natal e Vila Brasileira), com opções em diversas áreas, como saúde, gestão, comércio, turismo e hospitalidade, informática, artes, beleza e moda.

Em plena crise empregatícia, com sucessivos cortes de postos de trabalho, há quem questione a validade dos cursos de iniciação profissional. Garanto que muitos jovens conseguiram sua primeira oportunidade de trabalho depois de frequentar cursos como informática. Como exemplo, pinço um fato de 2004, quando dois call centers, recém-instalados em Mogi, abriram em seis meses 8 mil postos de trabalho – na maioria, com perfil de primeiro emprego. 

Já os que não alcançaram 16 anos – idade mínima legal para trabalhar no mercado formal – têm nos cursos de qualificação da Prefeitura reforço em sua formação educacional, frequentando aulas de inglês e espanhol. Outros jovens e adultos, já empregados, conseguem promoção ao concluir cursos ligados à área em que atuam. Há ainda inúmeros casos de pessoas que se formaram, aprenderam um ofício e se tornaram microempreendedores individuais, podendo trabalhar em casa para aumentar a renda familiar. 

Ao mesmo tempo, os cursos de qualificação profissional básica realizados pela Prefeitura são oportunidade gratuita de aprender e desenvolver novas habilidades. Conhecimento nunca é demais. O ensino de violão, por exemplo, atende pessoas que desejam tocar o instrumento, mas não poderiam pagar pelas aulas. Quanto às vagas de emprego, o caos no cenário econômico não durará para sempre (oremos para que tudo melhore rápido!). É preciso estar preparado para quando as empresas voltarem a contratar, mantendo o foco na qualificação. 
Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)

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