quinta-feira, 14 de julho de 2016

Dias melhores

Mogi das Cruzes ostenta um título nada honroso. Levantamento da Telefônica/Vivo coloca a Cidade na quinta posição do ranking estadual de furto de cabos telefônicos. Significa que os bandidos levaram 30,5 quilômetros de cabos telefônicos da operadora, de janeiro a junho deste ano. No mês passado, o volume furtado dobrou em relação ao registrado em maio. 

Os usuários de telefone são as principais vítimas do processo. Ficam sem o serviço até que as operadoras façam a reposição do material. Pode levar dias e até semanas. Se o problema já é grande na área urbana, torna-se gigantesco na zona rural. Distantes dos centros urbanos e, na maior parte, desprovidos de sinal de celular, os moradores de bairros rurais ficam isolados do mundo até a conclusão dos reparos. 

A situação é muito pior para os produtores que dependem do telefone para para tocarem seus negócios. Vale frisar que os hortifrutiflorigranjeiros cultivados em solo mogiano respondem por expressiva parcela do abastecimento nacional. A Cidade lidera a produção brasileira de diversos itens, além de exportar uma série de outros. Sem telefonia, as atividades ficam irremediavelmente comprometidas. 

Sou de um tempo em que não havia, sequer, energia elétrica na zona rural. Vencida essa fase, o passo seguinte era garantir a telefonia nas propriedades rurais. Em 1973, quando tomei posse como vereador, fundei e passei a presidir a Cooperativa Rural de Telecomunicações de Mogi das Cruzes. Dois anos depois, conseguimos um avanço extraordinário, com a implantação de mil terminais telefônicos na Cidade e também em Suzano, Biritiba Mirim e Guararema. No ato inaugural, conversei, por telefone, com o então presidente da República, General Ernesto Geisel. Nos anos seguintes, o modelo deu origem a outras 15 cooperativas no interior do Estado.

Em que pese a revolução tecnológica, aliada à expansão da internet, na zona rural, o telefone ainda é a mola-mestra para a comunicação. São raros os pontos onde é possível, por exemplo, fazer conexões por banda larga móvel ou rede wi-fi. Igualmente, ainda é utopia imaginar que, a curto prazo, as operadoras investirão em cabeamento subterrâneo nos bairros rurais. Se o processo já tarda demais na área central, as localidades mais distantes aguardarão muito mais.

Ao mesmo tempo, a ousadia dos ladrões é tanta que o cabeamento subterrâneo inibe, mas não acaba com os furtos. No ano passado, 1,2 mil assinantes da Telefônica/Vivo em São Pedro (SP) ficaram sem telefone e internet depois que os criminosos, uniformizados e agindo como trabalhadores em obras, estacionaram um caminhão e levaram o cabo metálico que estava debaixo da terra. Isto ocorreu perto da delegacia de Polícia, na região central. 

Já a substituição dos cabos de cobre por outro tipo bimetálico, sem valor comercial, também ajuda, mas não é garantia contra novos incidentes. Os bandidos costumam furtar para checar se não terão lucro, de verdade. Da mesma forma, a instalação de mais câmeras do sistema de videomonitoramento que implantamos em Mogi, enquanto prefeito, dificulta os crimes, assim como o aumento do efetivo e dos recursos da Polícia, considerando que a impunidade ainda é um dos grandes combustíveis da marginalidade. É verdade também que o fim da grave recessão econômica instalada no País deve criar oportunidades de emprego para muitos que se desviaram do caminho do bem para tentar sustentar a família. 

"Precisamos reverter o conceito de correr atrás das
consequências, priorizando medidas preventivas."
Contudo, penso que as ações repressivas, embora imprescindíveis, sempre serão como enxugar gelo. Precisamos reverter o conceito de correr atrás das consequências, priorizando medidas preventivas. Como exemplo, cito o trabalho desenvolvido ao longo dos oito anos em que exerci o cargo de prefeito de Mogi. Investimos pesado na educação de qualidade e no desenvolvimento social, focando ocupação saudável para crianças e adolescentes e o incentivo à cidadania. 

Visando preencher o tempo ocioso dos alunos, estruturamos a rede municipal para que nosso sucessor iniciasse o período integral nas escolas. Além do conteúdo curricular, os estudantes permanecem na escola aprendendo artes, praticando esportes e desenvolvendo outras atividades importantes para sua formação pessoal. Ou seja, deixam de ficar à mercê da criminalidade. Este programa também completa a lacuna gerada pela proibição legal do trabalho antes dos 16 anos de idade. Inserido na Constituição para incentivar os menores a estudar, o dispositivo não teve o devido respaldo em investimentos públicos na educação e acabou por instituir-lhes o ócio no horário livre das aulas. 

Mas, não é só. A derrocada do império da violência exige o empenho de cada indivíduo, partindo do resgate da unidade familiar. Os pais têm de cumprir a missão de educar os filhos com valores elementares, como dignidade, solidariedade, respeito e amor ao próximo, além de religiosidade, qualquer que seja o credo. Com a presença de Deus na família, se aprende a ter fé. Evidente que os resultados não são imediatos. Porém, existe a certeza de dias melhores e de uma sociedade mais evoluída no futuro. 

Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)

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