sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Boa relação humana

 

Como é importante a relação humana, começando no seio da família e abrangendo parentes, amigos, vizinhos e assim por diante! Nas famílias dos velhos tempos, como a minha, quando morávamos todos sob o mesmo teto – avós, pais, irmãos e tios solteiros – esse sentimento era permanente e foi extremamente benéfico. Muito mais que ensinamentos diários, a conduta permanente de interação com os ancestrais, calou fundo em nossa alma e moldou nossos sentimentos para a valorização das relações humanas.

 

Minha avó Makie esbanjava alegria e atenção nos seus 1,50 m. de altura. Desde sua chegada ao Brasil em 1928, com o vovô Tokuji e os filhos adolescentes (Izumi, meu pai; e Tiyoko, minha tia), ela cuidava das finanças da família e, conforme os negócios na lavoura cresciam e se expandiam, ela estendeu os cuidados financeiros do lar ao sítio e, posteriormente, à fazenda Abe, no antigo Bairro de Biritiba Ussu (hoje, Distrito), em Mogi das Cruzes/SP. Foi assim até a década de 1970. Apesar do seu português sofrível, uma vez por semana, ela visitava as agências bancárias da época, como as do Moreira Salles, América do Sul e Tozan. Resolvia integralmente as demandas da fazenda. Era conhecidíssima, do gerente ao porteiro, e sempre muito bem recebida.

 

Diante do fato, extraio o conceito e o aprendizado de que simpatia e alegria, além de não custarem nadinha, abrem as portas do sucesso em qualquer lugar ou circunstância. São alicerces da relação humana. Porém, lamentavelmente não exercitadas por grande parcela da sociedade. Transporto a importância da relação humana para o campo diplomático entre as nações.

 

Além das vocações peculiares de cada país, o intercâmbio internacional lastreado na amizade e nas relações multilaterais, que envolvem todas as áreas do conhecimento humano, impulsionam o desenvolvimento socioeconômico das nações. O Brasil figura entre os maiores exportadores de produtos primários, como minérios, agropecuária, celulose e até petróleo. Em contrapartida importa uma infinidade de produtos acabados e insumos. Quanto mais prevalece uma boa relação diplomática, as transações comerciais e transferência de tecnologia são exitosos, com menos burocracia. Esta condição é cristalina.

 

O inverso também é sobejamente conhecido e dificulta os interesses dos países. Vejam o caso do Brasil nas vacinas contra o novo coronavírus. Ou importamos as vacinas prontas ou precisamos importar os insumos e tecnologia de países como EUA, China, Índia e Rússia.

 

Por mais que a relação diplomática com os EUA, enquanto governado por Donald Trump, tenha sido boa, durante 2020, o Brasil não conseguiu importar nenhuma vacina daquela nação. Isso não ocorreu com a China, a maior parceira comercial do Brasil, que importa 60% da produção nacional de soja, assim como minério de ferro.

 

Comentários e ataques com fundo xenofóbico e de desprezo, lançados pelos nossos maiores mandatários, deterioraram profundamente a relação diplomática com a China. E o estrago só não foi maior pela dignidade das autoridades chinesas.

 

Ora, a primeira vacina contra Covid-19 aplicada no Brasil é da China. De lá vieram os insumos e a tecnologia para o centenário Instituto Butantan, de São Paulo, produzir o imunizante CoronaVac/Butatan-Sinovac. Também são chineses os insumos para a vacina AstraZeneca, produzida na Índia e com 2 milhões de doses recebidas, com atraso, no Brasil.

 

Alegando itens burocráticos, as indústrias farmacêuticas estão demorando para exportação da vacina pronta e dos insumos destinados à fabricação no Brasil. Por quê? Porque o sinal verde para exportação depende do governo chinês. E agora? Observamos os brasileiros sem vacinas em quantidade suficiente para a esperada imunização pelo SUS.

 

Vaidades, insensibilidade e interesses diversos e extemporâneos de certas autoridades governamentais são as causas do naufrágio brasileiro.

 

As boas relações humanas não diferem das exercitadas no âmbito familiar, na sociedade e na diplomacia entre povos, nações, governos e governantes. Elas são fundamentais e cada vez mais imprescindíveis nesta aldeia global. Portanto, vamos dar as mãos e seguirmos juntos sempre na mesma direção! #PazEBem

 


Junji Abe, produtor e líder rural, é ex-prefeito de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo

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