quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Além das comemorações

Passada a comoção das festividades do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil, entram em foco os desdobramentos da relação bilateral entre os dois países. Brasileiros e japoneses têm pela frente o desafio de transformar a irmandade instalada há 100 anos em conexão permanente para o desenvolvimento mútuo nos diversos campos do conhecimento.

Esse foi o cerne do Simpósio de Avaliação do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil, promovido pela Fundação Japão. Foram dois dias de atividades divididas em oito grupos de trabalho para abordar, com a participação de debatedores ilustres, as múltiplas faces da imigração japonesa, seus reflexos na sociedade brasileira, os resultados da integração entre os dois povos e as perspectivas para o futuro.

“Toda vez que você beber água de um poço, precisa fazer uma profunda reflexão no sentido de agradecer todas as pessoas que trabalharam para construí-lo”. Com esta frase, traduzida de um poema japonês, o diretor da Fundação Japão, Jo Takahashi, enfatizou a importância do sentimento de gratidão no contexto. Os agradecimentos estendem-se a todos que trabalharam anonimamente para o êxito das ações dos imigrantes, assim como para a evolução da relação bilateral Brasil-Japão.

Este sentimento de gratidão é muito forte em mim. Desde criança, ouvia dos meus avós e pais, imigrantes japoneses, que era preciso “amar este País, de todo coração, ajudar o povo em tudo o que for possível e fazer mais pelo Brasil que os próprios brasileiros”.

Mais do que palavras na mente da criança que fui, são princípios gravados na alma do homem que sou. Traduzem gratidão à Nação que acolheu a nossa e tantas famílias vindas do outro lado do mundo. Demonstram o afeto por esta gente alegre, hospitaleira e carinhosa que passou por cima de todas as diferenças, não viu barreiras culturais e nem de idioma para interagir e estabelecer os laços que se consolidaram sob a linguagem universal da emoção.

A coincidência do último ano da nossa administração à frente da Prefeitura de Mogi das Cruzes com a data histórica do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil nos levou a buscar algo que resgatasse a lembrança da epopéia de dificuldades, sofrimento e de mil obstáculos superados. E que mantivesse aceso nos descendentes o dever e o prazer da gratidão ao povo brasileiro. Mas também desse, a todos nós, brasileiros, a chance de reafirmar a admiração e o reconhecimento aos batalhadores do País do Sol Nascente. Ao mesmo tempo, que nos permitisse agradecê-los pelo tanto que fizeram pelo desenvolvimento da nossa Pátria. E por semearem a credibilidade, organização, solidariedade, disciplina, seriedade, amor ao trabalho e outros valores tão nobres.

Tinha de ser algo que propiciasse, por no mínimo mais 100 anos, o contínuo fortalecimento da relação bilateral entre Brasil e Japão. E que fomentasse o vigoroso intercâmbio tecnológico, ambiental, econômico-financeiro, cultural e tantos outros, avançando, além do tempo, o aprendizado mútuo inaugurado com o convívio entre os dois povos.

Mas, não era só. Tinha de ser algo que retribuísse, pelo menos um pouco da confiança e da amizade ofertadas pelos brasileiros. Em especial, pelos mogianos. Tinha de ser algo grandioso como a ligação entre os dois povos. E vivo, capaz de evoluir, transformar e de ser transformado.

Assim, surgiu o Parque Centenário. Erguido sobre uma área degradada onde só havia crateras herdadas da intensa exploração mineral, às margens do vital e lendário Tietê que, solitário e calado, chorava a devastação. Seguindo a lição dos imigrantes que coloriram nossas terras com a produção agrícola, recuperamos o espaço de 215 mil metros quadrados. Centenas de cerejeiras – símbolo do Japão – compartilham espaço com os nacionais ipês, paus-Brasil e quaresmeiras, avivando a paisagem em perfeita sintonia. Tal qual o relacionamento entre japoneses e brasileiros.

Agregando valor cultural, destacam-se equipamentos e atrações, como o Memorial da Imigração, Memorial do Parque, Memorial de Seki e Toyama – cidades-irmãs de Mogi –, Espaço Bom Odori e Samba, Ilha do Torii, balsa, pontes flutuantes, chafariz, ponte em arco, playground, mini-campo de futebol, quadra de vôlei, chalés, churrasqueiras, uma fantástica réplica do Navio Kasato Maru e o Pavilhão das Bandeiras unindo os estados brasileiros às províncias japonesas.

É um espaço que revigora os ânimos exibindo a prova de que nenhuma adversidade é intransponível. É branco, amarelo, preto, vermelho, de todas as cores, furta-cor. Está acima das raças e crenças. É multicultural. Também faz um chamado à necessidade de sonhar sempre. E de trabalhar para realizar cada sonho. É ainda um tributo à fé na humanidade, à grandeza dos sentimentos, ao valor da amizade.

O Parque Centenário materializa a reciprocidade de sentimentos. Homenageia japoneses e descendentes com a memória da imigração e a reprodução de ícones da arquitetura nipônica. Homenageia os mogianos com um espaço público para o lazer, atividades culturais e, principalmente, para incentivar o convívio familiar.

Os ricos debates que se processaram ao longo do Simpósio renovaram minha convicção de que o Parque Centenário abriga os conceitos fundamentais definidos para homenagear, em mão dupla, os 100 anos da Imigração Japonesa no Brasil.

Isto, porque não termina com as festividades. Ao contrário, abre contínuos horizontes de possibilidades. E faz ecoar, de Mogi para o mundo, o genuíno exemplo de intercâmbio plural, cooperação mútua, coexistência pacífica e verdadeira amizade entre Brasil e Japão. Foi assim há um século. É assim hoje. Será ainda mais amanhã. Em especial, porque nutro a fé de que, com a luz divina, havemos de ter êxito na perseguição dos objetivos primordiais de toda a humanidade – igualdade, com respeito à diversidade, justiça social, qualidade de vida e paz. Afinal, já temos um bom começo.


Junji Abe (DEM) é ex-prefeito municipal de Mogi das Cruzes

Um comentário:

  1. Parabéns, sr. Junji Abe, pelo Parque Centenário. Minha esposa, que é jornalista, o acompanhou nas cidades de Seki e Toyama e agora, que estamos de volta ao Brasil, estamos curiosos para conhecer o parque. Aprendemos muito também com o povo japonês, tanto é que abrimos uma imobiliária em Suzano com o nome Tsuru Imóveis(www.tsuruimoveis.com.br).
    Abraços ao sr., sua equipe e sucesso! Martinho Jr.

    ResponderExcluir