sexta-feira, 28 de maio de 2010

Divina Bandeira





“Os devotos do Divino vão abrir sua morada
Pra bandeira do menino ser bem-vinda, ser louvada.
Deus nos salve esse devoto pela esmola em vosso nome
Dando água a quem tem sede, dando pão a quem tem fome...”
Ivan Lins
O ser humano recebeu de Deus sentimentos que se manifestam interna e externamente, de formas diversas. Por vezes, vêm suaves; noutras, intensos, conforme os acontecimentos. Alegria, tristeza, satisfação, preocupação, raiva, revolta, gratidão e emoção, dentre inúmeros outros, fazem parte da nossa existência.

Pinço rapidamente dois – emoção e gratidão. Elejo-os como os principais para nortear este artigo. Seria muito egoísmo da minha parte se não divulgasse os acontecimentos vividos com a Bandeira do Divino Espírito Santo. Confesso que, gostaria de ser poeta para fazer as palavras bailarem à altura da indizível emoção. Como não sou, talvez não encontre o texto adequado para descrever o que me vai na alma. Contudo, não falta o necessário desejo de relatar minha grata experiência.

De 1991 a 2000, desempenhando a honrosa função de deputado estadual, todos os anos, me postava no palanque instalado no Largo Bom Jesus, em frente à Igreja de São Benedito, na querida cidade de Mogi das Cruzes. Dali, acompanhava a Entrada dos Palmitos. Trata-se de um cortejo fabuloso, com milhares de devotos, cada qual carregando a Bandeira do Divino e cantando, com fervor. Há também os grupos de congada e marujada, tocando e dançando, cavaleiros desfilando com seus imponentes animais, carros de boi enfeitados – em gratidão à colheita –, passando ao som do rangido característicos das rodas e muitas crianças – umas concentradas, outras infinitamente alegres. Tudo, com a predominância da cor vermelha, numa autêntica manifestação de fé e louvor ao Divino Espírito Santo.

Gente, sinceramente, são indescritíveis os sentimentos. Fluem pelas artérias, abraçam cada neurônio e fazem a alma transbordar sob a forma de lágrimas que, silenciosamente, molham a face externando uma minúscula parcela de tanta emoção.

Aqui, registro toda gratidão à amiga Leila Mathias que, por ser de família tradicional de Sabaúna, todos os anos fez questão de me convidar para a Festa do Divino Espírito Santo de Sabaúna. Foi assim que conheci melhor, me apaixonei e comecei a amar cada instante dessa celebração da Igreja Católica.

Sempre levei em consideração os ensinamentos dos missionários, fossem bispos ou padres, de que o aspecto festivo do Divino deve ser precedido, fortemente, pela parte religiosa, com o propósito de plena evangelização. Por isto, em 2001, no primeiro ano de nosso mandato como prefeito, solicitei à Comissão Pró-Festa do Divino, que avaliasse a possibilidade de instalar o Sub-Império na sede do Poder Executivo. Resposta positiva. Que emoção!


A equipe do Fundo Social de Solidariedade de Mogi das Cruzes, comandada pela minha esposa Elza e pela professora Marlene Alabarce, cuidou de todos os detalhes. Então, pela primeira vez, com as ilustres presenças do Padre Vicente Morlini, Festeiros e Capitães de Mastro, devotos, voluntários e servidores municipais, recepcionamos o Sub-Império. E, de lá para cá, todos os anos, este sagrado ato religioso se repete. A fé, somada à participação popular e parceria com a sociedade, garantiu dois mandatos auspiciosos.


Estimulados pelas amigas Marlene, Leila e outras companheiras, em 2001, Elza e eu participamos da Entrada dos Palmitos. Tive a suprema honra e alegria de carregar a Bandeira do Divino do saudoso José Roberto Manna de Deus, cedida pela sua esposa, nossa inesquecível amiga Amália Manna de Deus. Que responsabilidade! Mas, Deus, com Sua infinita bondade e sabedoria, deu-me forças para que a sagrada bandeira fosse conduzida por mim, altaneira, como tem de ser. A emoção foi nossa cúmplice do início ao fim.

Quando falo da Amália, preciso destacar a mulher excepcional, exemplo de bondade, amada na Cidade e sempre pronta a ajudar a todos. Mogi aprovou nossa sugestão de fazer-lhe uma homenagem póstuma dando seu nome ao Pro-Hiper – um centro especializado no atendimento à Terceira idade –, lugar de respeito, reconhecimento, gratidão, amparo e amor às pessoas, qualidades que Amália reuniu e praticou cada dia da sua vida.

Que Nosso Senhor possa transmitir ao casal Manna de Deus, lá no plano celestial, nossa eterna gratidão. Nos anos seguintes, o filho Caíque, em nome da família, continuou me cedendo a Bandeira do Divino. E assim participamos dos cortejos da Festa do Divino Espírito Santo ostentando, orgulhosos, o estandarte.

Este ano, a amiga e festeira Flávia Cassola Silva encomendou, a meu pedido, uma Bandeira para nossa família. É maravilhosa, fantástica mesmo. Fui às lágrimas quando o sagrado estandarte do Divino foi benzido pelo pároco. No sábado, dia 16, carreguei a Bandeira do Divino na Entrada dos Palmitos. Com todo orgulho que ela inspira e toda humildade que a celebração exala. À Flávia e Jefferson, nossa profunda gratidão por nos ter propiciado este momento de emoção ímpar.


O Criador me proporcionou outra inédita e generosa participação na Festa do Divino Espírito Santo. Era 2001. Em companhia de dezenas de servidores municipais, servimos a milhares de devotos o afogado – prato tradicional do evento, à base de carne e legumes. Foi uma noite memorável – a primeira de muitas que viriam nos anos seguintes. Deixo um agradecimento especial à Comissão Pró-Festa do Divino que nos brindou com a dádiva dessa experiência. Aliás, tão proativa que persiste, apesar da mudança no poder político-administrativo. Tornou-se uma espécie de tradição o prefeito e alguns colaboradores dedicarem uma noite à tarefa de servir o afogado.

Abro aqui um parênteses para contar um episódio interessante. A parte festiva do evento, inclusive o afogado, ocorria numa tímida área ao lado do Ginásio Municipal de Esportes. Não comportava os visitantes e não havia vagas para estacionamento, bloqueando o crescimento da Festa. A partir de 2002, resgatamos um imenso espaço que servia como “cemitério de carros” apreendidos por documentação irregular. Com infraestrutura adequada, o local tornou-se um polo de eventos ao lado do CIP – Centro de Iniciação Profissional.

Já em 2002, oferecemos à Associação Pró-Divino o novo espaço para realização de toda parte festiva, incluindo as dependências do CIP para garantir aos visitantes espaço apropriado para saborear o afogado. No segundo mandato à frente da Prefeitura, instalamos sanitários e completamos com a Avenida Cívica. Assim, acabava o martírio da falta de vagas para estacionamento.

Foi o nosso modo de dar o mínimo de retribuição, sob a forma de conforto e segurança, aos integrantes da Associação Pró-Divino e aos devotos, demonstrando nossa gratidão e colaborando para o desenvolvimento da Festa. Sabíamos que o público aumentaria ano após ano em ritmo acelerado.

A Festa do Divino Espírito Santo une religiosidade, cultura e tradição. Mas, não é só. Renova a fé, inspira a solidariedade e resgata valores éticos adormecidos. A perfeita conexão entre a beleza da forma e a nobreza do conteúdo está em tudo. No Império do Divino, nas procissões, no entusiasmo das voluntárias no café matinal, na nobre missão das rezadeiras, na Entrada dos Palmitos, em cada bandeira ostentada com orgulho. Está também no afogado, nos doces das “abelhinhas” e em tantos outros quitutes da quermesse – fruto da dedicação de fiéis que se transforma em benefícios para pessoas carentes. Diante de tantas dádivas, basta ter fé, participar e rogar ao Divino que derrame seus dons sobre a nossa Cidade, nosso Brasil e nossa gente.

São 11 dias de uma extensa programação que mexe com a Cidade e atrai milhares de visitantes de outros municípios, Estados e até do exterior. Alvoradas, novenas, missas, procissão que percorre as ruas bordadas com flores e cereais, todos os eventos são essenciais para nós, cristão católicos.

É uma festa de devoção que purifica a alma. Integrar o cortejo é como abraçar o Criador. E se permitir a uma indescritível sensação de paz, que clareia a mente para entender e assimilar o profundo significado dos sete dons do Espírito Santo. Vale conhecer cada um deles. O dom da Sabedoria nos mantém voltados para o bem. Com entendimento, aprendemos a buscar a verdade. A dádiva do Bom Conselho nos ajudar a escolher o melhor caminho. Já a Fortaleza é a coragem, a força para enfrentar as adversidades. Para compreender os sinais dos tempos, há o dom da Ciência. Com a Piedade, nutrimos a compaixão pelo próximo e a caridade. O sétimo dom é o Respeito a Deus, aos valores do amor e da bondade, que nos faz fugir de toda a maldade.

Com sinceridade, confesso que deixo muito a desejar na tradução do que a Festa do Divino representa para mim e minha família. Mas, precisava tentar escrever, compartilhar esta divina experiência. Exatamente por saber que me falta a capacidade e o talento dos grandes escritores, recorro à memória viva dos momentos em que conduzi a Bandeira do Divino. Com esta emoção mergulhada na alma e fazendo brotar lágrimas nos olhos, manifesto a mais profunda gratidão a Deus, ao Divino Espírito Santo, aos voluntários que tudo fazem pelo bem do próximo e a todas as pessoas maravilhosas que me permitiram viver experiências impagáveis ao longo das celebrações.

Junji Abe (DEM) é ex-prefeito de Mogi das Cruzes

Nenhum comentário:

Postar um comentário