sábado, 24 de julho de 2010

Cultura, uma necessidade social

Décadas atrás, os governantes costumavam tratar a cultura como artigo de luxo. Portanto, supérflua para o povo. Não havia a menor preocupação em proporcionar opções gratuitas de eventos culturais, esportivos e de lazer. Muito menos de oferecer atividades que desenvolvessem o gosto pelas manifestações artísticas. O foco das ações públicas concentrava-se em obras. De preferência, as grandes, com alta visibilidade.


Essa visão míope de que as pessoas não precisam de cultura, nem de esportes e muito menos de lazer é responsável por um bocado dos males que tanto afligem a sociedade de hoje. É claro que a culpa maior é da má distribuição de renda que coloca o Brasil entre os países recordistas em desigualdade social do planeta.


O descaso com áreas essenciais ao bem-estar físico e mental do ser humano tem muito a ver com o alto nível de agressividade que as pessoas carregam. Basta olhar o comportamento dos motoristas no trânsito. São xingamentos por todo lado, reações exageradas – até tiros já saíram – e a incapacidade de, simplesmente, se desculpar por um erro cometido ou perdoar a falha do outro.


Na sociedade moderna, onde a pressão por causa do emprego ou pela falta dele está na veia de todo cidadão comum, as atividades culturais, artísticas, esportes e lazer tornaram-se fundamentais. Como a maioria da população não pode pagar por eles, cabe ao Poder Público oferecer opções gratuitas. E para todas as idades.


Repare como são bem mais tranquilas e disciplinadas as crianças que tocam um instrumento musical, participam de um grupo de teatro, enfim, têm acesso aos bens culturais ou praticam algum esporte. Certamente, serão adultos mais sensíveis, equilibrados, produtivos, menos propensos a ataques de raiva e problemas de saúde. Serão bem mais saudáveis.


Igualmente, os adultos também precisam ter a chance de participar de manifestações culturais e artísticas ou de, pelo menos, apreciá-las. Ou de praticar esportes. Ou de, no mínimo, contar com um parque público onde possa ir com a família no fim de semana, fazer um piquenique, ter momentos de descontração e lazer. Para a Terceira Idade, então, é vital ter acesso a atividades que permitam a socialização e tirem da cabeça do idoso a terrível sensação de ser um peso para alguém. São iniciativas que fazem bem ao corpo e à mente.


Outra bobagem é achar que o povo não gosta de arte. Gosta sim. Só precisa conhecer. Ninguém pode gostar do que não conhece. Senão, fica que nem a música do Zeca Pagodinho sobre o caviar: “Nunca vi nem comi; eu só ouço falar”.


Fique claro que quando se fala em cultura e artes não pode haver preconceitos. Nem da sociedade; muito menos do Poder Público. Ao longo da minha gestão como prefeito de Mogi das Cruzes, notamos o interesse dos adolescentes por rap, hip hop e dança de rua (a street dance dos americanos). Resolvemos criar oficinas culturais dessas modalidades. Muita gente criticou dizendo que eram ritmos da marginalidade. Ora, que sandice. É tão arte quanto música erudita e balé clássico. No caso, era mais. Era o que os jovens queriam.


A verdade é que a iniciativa foi um sucesso. Em vez de gastar o tempo ocioso nas ruas, a meninada ia, entusiasmada, para as oficinas. Em eventos, os grupos se apresentavam e arrancavam aplausos de quem antes criticava. A arte é plural. Aliás, na minha campanha à reeleição, fui presenteado com um jingle no estilo rap e coreografia de dança de rua. Fizemos um videoclipe, exibimos nos programas de tevê e todo mundo adorou.


Igualmente, eu e minha equipe das áreas de Cultura e Cidadania enfrentamos muita ironia e descrédito para criar a Orquestra Sinfônica Jovem “Minha Terra Mogi” com crianças pobres da Cidade. Bem, os queixos caíram no primeiro concerto. Meninos e meninas humildes, com violinos, violoncelos, piano e tudo mais, paralisaram a platéia durante a execução de uma série de músicas clássicas.


Nossa meta era proporcionar ocupação saudável para crianças e adolescentes. Dentro deste propósito, idealizamos uma Sala de Música sem igual na Região, com estrutura e acústica integralmente planejadas para a finalidade. O projeto foi realizado na Escola Municipal Professor Mário Portes, localizada em Jundiapeba. É o Distrito onde vive a maior parcela da população carente de Mogi. Ouvi uma porção de comentários maldosos. Para se ter ideia, diziam que o local seria destruído em menos de uma semana e outros absurdos típicos de gente preconceituosa.

Aos humanos de pouca fé, mais um show de cidadania. Ali, naquele espaço, os alunos aprenderam, ensaiaram e constituíram a Banda Sinfônica que coleciona prêmios em competições no Estado. Sim, tanto a Sala de Música como a própria escola são muito bem cuidadas. Há canteiros floridos, paredes intactas, nenhuma sujeira no chão e tudo mais que caracteriza o território de cidadãos de verdade.


É uma minúscula amostra de tantas outras ações públicas que difundem a cultura, promovem a cidadania e evitam que os menores fiquem nas ruas, à mercê das teias da criminalidade e das drogas. Houve muitos outros bem-sucedidos programas públicos para todas as idades, seguindo o raciocínio de que é indispensável a oferta gratuita de atividades culturais, artísticas, esportivas e de lazer à população. Mas, para não me alongar, falarei deles em outra ocasião. Só queria mostrar que, quando há vontade política em sintonia com os anseios da população, o Poder Público desenvolve iniciativas de valor inestimável para a sociedade do presente e do futuro.

Junji Abe
Candidato a Deputado Federal pelo DEM - 2545

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