quinta-feira, 26 de maio de 2016

Hora do desapego

Em época de recessão econômica aguda, com a inflação célere, desemprego multiplicando vítimas e as dívidas se amontoando, talvez, a saída seja vender pela internet objetos comprados, mas sem uso. Evidente que não é a solução nem a superação das dificuldades, mesmo porque a crise diminui os compradores, mas é uma possibilidade de reduzir débitos. Aliás, a tecnologia é uma grande aliada no processo de encontrar alternativas para lidar com os mais diferentes problemas. A profusão de informações que pipocam na rede mundial de computadores inclui dicas interessantes e orientações importantes. 

Como efeito dos tempos de vacas gordas, muitas famílias agregaram ao cotidiano uma série de itens que pouco usaram. Ou, se tiveram utilidade, agora, só servem para ocupar espaço em casa. Houve uma febre de consumo. Embaladas pela estabilidade econômica, preços barateados por benefícios fiscais e facilidades de crédito, pessoas compraram bem além do que precisavam. Resultado: um amontoado de coisas em bom estado que são tratadas como bugigangas. Ou bens de maior valor que ainda não foram quitados. 

"Pelo menos quatro de cada dez brasileiros possui
 itens sem uso que poderiam ser colocados à venda."
Pelo menos quatro de cada dez brasileiros possui itens sem uso que poderiam ser colocados à venda. Parece pouco? O cenário representa potencial financeiro de R$ 105 bilhões, uma média de R$ 1.864,16 por pessoa. Os dados, divulgados em julho do ano passado, constam de pesquisa do Ibope, que mapeou o mercado de produtos usados no Brasil e foi encomendada por um site de classificados online gratuitos. 

Vender produtos inservíveis que estão em casa pode ser um bom jeito de arrumar dinheiro extra. Os sites de vendas de itens usados são uma ferramenta essencial e de fácil acesso, com retorno rápido, na maioria das vezes. Basta praticar o desapego e não ter dó de fazer as ofertas ao mercado. Significa não nutrir aquele bordão de que “guarda porque pode precisar um dia”. 

Há gente que, na fartura de outrora, comprava, por impulso, um celular novo a cada quadrimestre. Hoje, tem pelo menos três aparelhos sem uso, enquanto amarga dívidas com bancos e operadoras de cartões de crédito. Levantamento do Banco Central mostra que a taxa de juros do cheque especial chegou a 308,7% ao ano em abril. Já os juros do rotativo do cartão de crédito ficaram em 448,6% ao ano.

Na prática, é loucura lançar mão do cheque especial e pior ainda pagar só o valor mínimo da fatura do cartão de crédito. É um momento mais que propício para exercitar a educação financeira. De um lado, renegociar as dívidas encontrando meios de arcar com menos juros. Para se ter ideia, o crédito renegociado opera com taxa de 54,7% ao ano, de cinco a oito vezes menor que as modalidades anteriores. De outro, desapegar de itens sem uso para obter uma renda extra com a venda, utilizando os recursos para abater parte da dívida. 

Para testar os efeitos do consumismo, especialistas sugerem que se faça uma lista de calçados, roupas, eletrônicos, móveis usados, tudo que foi comprado e não saiu da caixa ou que já está encostado faz algum tempo. O tamanho do inventário é um bom indicador de que a pessoa andou comprando bem mais do que precisava, por falta de planejamento, impulso ou para manter o status. 

O passo seguinte é transformar objetos sem uso em dinheiro. Aí, entra a pesquisa dos sites de comércio online de produtos usados. Cada um tem suas regras, mas a maioria admite anúncios gratuitos dos itens e cobra taxas variadas sobre o valor da comercialização. Antes de escolher, vale observar os comentários de outros usuários e consultar eventuais reclamações contra o sítio. E, claro, não empregar o que arrecadou em mais compras improdutivas. Boa sorte e boas vendas! 

Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)

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