Seria redundante
exaltar a transcendental importância da mulher no contexto familiar e na
sociedade como um todo. Sou o que sou, graças à educação, exemplos e
orientações que recebi das avós paterna e materna e da minha querida e saudosa
mamãe. Não é privilégio meu, mas de todos. Mesmo assim, as personalidades
masculinas ganham colossal destaque na história do Brasil em relação às
femininas. Isso ocorre apesar de a projeção do censo demográfico (2019) indicar
que as mulheres representam 51,8% da população, enquanto os homens, 48,2%. A
disparidade fica ainda mais evidente nos resultados das eleições municipais de
2020. Do total de 5.570 municípios brasileiros, 11,8% elegeram prefeitas – apenas
657, ante 4.913 prefeitos.
Vejo isso como um enorme prejuízo. É
notório o desempenho das mulheres no comando dos poderes públicos. Em
prefeituras governadas por mulheres, é comum constatar a evolução social da
comunidade, com redução da desigualdade, a partir de políticas públicas focadas
nas classes menos favorecidas, dentre uma série de ações mais sensíveis.
No cenário mundial, houve e há demonstrações
inequívocas de competência, sensibilidade, dedicação e lealdade aos princípios
éticos e morais, vindas de ilustres personalidades, como as primeiras-ministras
Indira Gandhi (Índia, 1966/1977-1980/1984),
Golda Meir (Israel, 1969/1974), Margaret Thatcher (Inglaterra, 1979/1990) e Angela
Merkel (Alemanha, desde 2005).
No panorama nacional, destaco a
decisão da prefeita de Juiz de Fora (MG), Margarida Salomão (PT), que escolheu
mulheres para comandar metade das 20 secretarias municipais. Foi uma legítima
conquista de paridade, pouco vista na política brasileira. Creio que a medida
reflita lutas históricas dos movimentos feministas por representação política.
Sociólogos e cientistas políticos defendem
que a paridade de gênero nos cargos públicos de primeiro escalão do poder
executivo deveria ser um padrão constitucional e não algo extraordinário.
Em estudo realizado em 2019 pela ONU
Mulheres e pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, o Brasil
ficou entre os piores países latino-americanos no que diz respeito aos direitos
políticos das mulheres e à paridade de gênero na política. Ficamos
vergonhosamente em 9º lugar entre 11 países.
A adoção, por força de lei, da paridade
de gênero na política, em todos os níveis, embasa-se em justificativas
irremovíveis. Trata-se de um princípio fundamental para a democracia garantir
que as mulheres ocupem espaços e poder de decisão. Basta verificar que elas
correspondem a 70% dos usuários da atenção básica do SUS, segundo Pesquisa
Nacional de Saúde (2019). Na área
educacional, as mulheres envolvidas na política apresentam maior sensibilidade para
apresentar soluções, visto ainda serem as principais responsáveis pelo cuidado
com os filhos. Em relação à violência doméstica, da qual são as principais
vítimas, destacam-se com a indicação de alternativas positivas. Aumentar a
participação das mulheres na política é combater o estereótipo de gênero, considerando
que a ausência ou presença mínima de figuras femininas com poder de decisão
reforça a regra machista de que “política não é lugar de mulher”.
Evidencio a paridade de gênero nas
secretarias municipais para impulsionar a participação das mulheres na política.
De um lado, é um meio de elas ganharem visibilidade para eventuais candidaturas
às eleições, se assim desejarem. De outro, incentiva mais mulheres a se engajarem
na política partidária para futuras disputas eleitorais.
Conclamo a sociedade civil para se
organizar no sentido de garantir formação, qualificação e investimentos nas
candidaturas de mulheres para que possam enfrentar as eleições, aperfeiçoando e
ampliando os mecanismos legais já existentes, apesar de tímidos: cotas de 30%
de vagas que o partido político deve garantir às mulheres, como também 5% dos
recursos financeiros e reserva de 30% do Fundo Partidário. Acredito piamente
que vamos avançar e melhorar a paridade de gênero na política, porque, acima de
tudo, as mulheres são guerreiras ao extremo!
Junji
Abe, produtor e líder rural, é ex-prefeito de Mogi das Cruzes, na Grande São
Paulo
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