A pandemia de Covid-19 limou o Carnaval, a maior
festa cultural deste Brasil miscigenado. Mesmo quem, habitualmente, fica distante
da Folia de Momo, preferindo o lazer ou o descanso, pode ter ficado tristonho
com o cancelamento do ponto facultativo.
A origem do Carnaval está na Antiguidade, com a festa aos deuses,
ocasião em que se invertia a ordem social, proporcionando aos escravos e servos
assumirem os lugares dos senhores, enquanto a população aproveitava para se
divertir. O Brasil é conhecido mundialmente como o País do Carnaval.
A evolução do Carnaval brasileiro foi gradual.
Porém, acelerou-se diante da possibilidade de agregar valores, como fontes de
renda e tributos. Em nome do turismo, o poder público assumiu grande parte das
responsabilidades, profissionalizando o Carnaval.
Para os descendentes de japoneses da velha guarda, bastante discretos e
tímidos, o Carnaval foi, inclusive, um instrumento de integração racial e
social. Na década de 1960, como integrante do departamento de jovens de
associações nipo-brasileiras, tive o privilégio de participar anualmente de
carnavais de salão, como os inesquecíveis na sede da Associação dos
Agricultores de Cocuera, em Mogi das Cruzes.
Aprendizado, gosto e respeito à maior festa cultural do Brasil foram os
sentimentos que me levaram a realizar o carnaval de rua em 2001, como prefeito
mogiano, na Av. Vol. Fernando Pinheiro Franco (Avenida dos Bancos). O acontecimento
teve sucesso incomum e aprovação do povo mogiano. Até então, a festança
cultural nas ruas não tinha a efetiva parceria da administração municipal com a
Associação Mogiana de Escolas de Samba e Blocos (Amesb).
Transferimos o carnaval de rua para a Av. Prof. Ismael Alves dos Santos,
muito mais segura e adequada, no bairro do Mogilar. Como resultado do desejo de
proporcionar ao povo mogiano um local realmente decente para o carnaval de rua,
na 2ª gestão como prefeito (2005-2008), projetamos e construímos, na várzea
alagada e abandonada do Mogilar, uma via pública com dimensão apropriada para
que a Cidade pudesse realizar não só o Carnaval, mas todos os eventos socioculturais
de rua. A via ganhou o nome de Avenida Cívica.
Agradeço o povo mogiano pela enorme contribuição na perpetuação do
carnaval de Mogi que, diga-se de passagem, é o melhor do Alto Tietê. Estendo a
gratidão à diretoria da Amesb e a todos os integrantes das fabulosas
agremiações carnavalescas. Em especial, dos anos de 2001 a 2008, durante nossas
gestões, que proporcionaram diversas atividades socioculturais e de geração de
renda às suas comunidades, como contrapartida à ajuda financeira da Prefeitura.
Em 2008, no Centenário da Imigração Japonesa no Brasil, a Amesb e entidades
associadas fizeram uma homenagem escolhendo, sem eleição, um Rei Momo
descendente de japoneses que, por sinal, era magro, contrastando como os
tradicionais reis fofões. Na ocasião, a Estação Primeira de Brás Cubas
desenvolveu, na Avenida Cívica, o enredo intitulado Doomo Arigatô (Muito
Obrigado, em tradução literal). Foi uma emoção indescritível!
Com certeza, após a superação da pandemia, em 2022, haveremos de vivenciar
as festas de Momo, visto que o Carnaval é imortal e imprescindível por se
tratar do maior e mais importante evento cultural do Brasil, nossa terra
abençoada por Deus, habitada pelo povo multirracial e multicultural. #VivaCultura
Junji
Abe, produtor e líder rural, é ex-prefeito de Mogi das Cruzes, na Grande São
Paulo
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