Intolerância geral, racismo e xenofobia
são tipos de violência recorrentes no mundo inteiro. Por ser brasileiro
descendente de imigrantes japoneses, conheço bem as consequências nefastas
desses crimes. Enquanto criança e jovem, antes, durante e após a 2ª Guerra
Mundial (1945), até o ressurgimento do Japão, após a derrota, como destaque
mundial no campo econômico, as ofensas à nossa honra e dignidade eram
constantes. Ocorriam até agressões físicas. Com o passar dos anos, diminuíram
quase por completo.
A integração amainou a dita intolerância e racismo
contra nós que éramos considerados “olhos rasgados ou puxados”, baixinhos, “gente
de 3ª classe”. Viramos alvos de chacotas do tipo: “acorda japonês”, “chega de
dormir e volta para o seu país”... Mas, graças a Deus, isso ficou no passado.
Vale lembrar que a intolerância é gerada também por
questões sociais.
Hoje, comento a xenofobia. Trata-se de sinônimo
de nacionalismo, nativismo, patriotismo, chauvinismo, jingoísmo e
bairrismo. A expressão surgiu da junção de duas palavras do idioma grego: xénos
(estrangeiro e estranho) e phóbos (medo), que significa medo do diferente ou
medo do estrangeiro. É a rejeição ou hostilidade direcionada a algo ou alguém
que não faz parte do local onde se vive.
Esse sentimento de repugnância e intolerância causa graves impactos na saúde psicológica
e mental do ofendido. Infelizmente, a xenofobia voltou com vigor nesta pandemia.
No ano passado (2020), quando surgiu o mortal vírus, na cidade de Wuhan, na
China, com propagação meteórica em todos os quadrantes do planeta, começou a
caça às bruxas. Em especial, porque a China é um país fechado quanto à
transparência das notícias e se agiganta como a 2ª maior potência econômica
mundial, o que fomenta atritos com grandes nações dominadoras, como os EUA.
Coincidentemente, o então presidente dos EUA,
Donald Trump – um dos piores mandatários da história daquela nação –,
tudo fez para responsabilizar a China e os chineses pela pandemia. O presidente
do Brasil, aliado e submisso ao incompetente Trump, desde o início, agiu da
mesma forma, rejeitando a vacina chinesa CoronaVac e defendendo a sua preferida,
AstraZeneca/Oxford. Porém, de forma intencional ou por desconhecimento, ignorou
que os insumos para a fabricação da AstraZeneca/Oxford são totalmente
produzidos na China. Aliás, na semana passada, a Agência Nacional de Saúde
(Anvisa) autorizou os testes de uma nova vacina no Brasil, a chinesa Sichuan,
da empresa Sichuan Clover Biopharmaceuticals. Ah, se não fosse a China,
estaríamos praticamente sem imunização!
A xenofobia do governo brasileiro também coloca em
risco o sucesso das nossas invejáveis commodities.
Falo do agronegócio e minérios que, entre outros, sustentam nossa economia,
tendo a China como a maior parceira comercial do Brasil. A República Popular da
China é a maior importadora de minérios de ferro, soja, trigo, arroz, carnes (suínos
e bovinos) e suco de laranja, entre outros produtos.
Com todas as argumentações contra a China, desferidas
pela maior autoridade brasileira, a pequena parcela radical e extremista do
povo brasileiro, imperceptivelmente, segue o discurso presidencial, espalhando
agressividade também contra os chineses que adotaram o Brasil de corpo e alma,
assim como seus descendentes, a maioria deles, brasileiros natos. Triste e
lamentavelmente, acabam vistos como responsáveis pela geração e propagação da
Covid-19.
Vejam o caso do chinês Huang Zhen Sheng (29), que
está no Brasil há 10 anos, mora no Rio de Janeiro, é casado com uma carioca e
pai de uma menina de 2 anos. Não bastassem as piadas pelos olhos amendoados, a
pandemia deu lugar às ofensas.
O casal estava com um amigo chinês numa lanchonete,
quando um dos coletores de limpeza urbana proferiu, de cima do caminhão, uma
enxurrada de provocações xenofóbicas. Olhando para Sheng e o amigo, disse que ambos
deveriam voltar pra China, porque trouxeram a doença. O xingamento veio cheio
de palavrões e o desejo de morte para os chineses. Num outro episódio, dentro de um shopping,
Sheng foi chamado de “coronavírus”.
Como ser humano, cristão e cidadão brasileiro,
cônscio das responsabilidades cívicas e comprometido com a luta em prol da
diversidade, conclamo a todos, alvos ou não de intolerância, racismo e
xenofobia, a repudiarem essa violência, assim como a denunciarem ocorrências do
gênero às autoridades públicas, pelo disque 100. Não vamos deixar barato,
omitindo agressões dessa amplitude, visto que os radicais, extremistas e ignorantes
atuam exatamente pelas nossas omissões, porque se julgam acima da lei e imunes
às punições! #Denuncie100
Junji
Abe, produtor e líder rural, é ex-prefeito de Mogi das Cruzes, na Grande São
Paulo
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