terça-feira, 16 de junho de 2020
Questão de sobrevivência
Sempre
defendi a importância da prevenção, individual ou coletiva, por acreditar que é
muito melhor prevenir que remediar. É um conceito adquirido na infância. Vem
dos ensinamentos dos meus pais e avós que, como imigrantes japoneses, conheciam
bem o significado das catástrofes no Japão de tantos terremotos e tsunamis.
Sempre que posso, destaco
minha imensa preocupação com grande parte
da população brasileira: quase 40% sem formação profissional. Isso reflete décadas de
insensibilidade e incompetência de governantes, outras autoridades do setor
público e privado e até de lideranças civis que, salvo exceções, pouco fizeram pela
oferta de ensino público de qualidade – base irrefutável da boa capacitação
profissional.
A triste constatação
demonstra que, com extrema crueldade, estamos perdendo o bonde da história. O que
será destes milhares de crianças, jovens e adultos marginalizados pela
desigualdade social, profundamente despreparados e sem oportunidades para
conseguirem uma formação profissional neste mundo tão competitivo e marcado por
céleres avanços tecnológicos? Uma infinidade de profissões está desaparecendo, o
que escasseia oportunidades de trabalho. Tanto para os empregados como para os
empreendedores não capacitados.
Há anos, ensino, tecnologia
e trabalho já eram sinônimos das necessidades basilares da sociedade. Mas,
quase nada surgiu que capacitasse com eficiência crianças, jovens e adultos
mais humildes para a competitividade neste mundo globalizado.
Temos uma realidade que
implica cada vez mais a consistente formação profissional em todas as
atividades econômicas, inclusive nas tarefas domésticas. Em diferentes setores,
centenas de empregos, ocupações e empreendimentos já foram extintos e as
transformações tecnológicas não param.
Conforme opiniões de
especialistas, o setor de saúde vem incorporando com muita rapidez o home
office, a telemedicina, a personalização diagnóstica, o uso da inteligência artificial e o
cruzamento de dados. Na educação, a adoção do Ensino Remoto Síncrono
Emergencial já mudou o modelo tradicional, principalmente no curso superior. Na
indústria, o desenvolvimento da tecnologia 4.0, adotada pelos países mais
avançados, coloca de joelhos as nações subdesenvolvidas. No Judiciário, o
sistema virtual já é realidade inconteste, facilitando as relações de pessoas,
juízes e servidores, com audiências por videoconferência, por exemplo. Na
agricultura e pecuária, as atividades convencionais vêm sendo substituídas, até
em pequenas propriedades de hortifrutiflorigranjeiros, onde avança a presença
de drones no lugar de trabalhadores.
É cristalino que não
estamos à altura para competir. Enquanto isso, milhões de empregos são
aniquilados, empreendimentos se fecham, rendas e tributos se evaporam. Poderia
classificar como tragédia anunciada, mas prefiro acreditar numa mudança de rota
para fazer valer o ditado – “Antes tarde do que nunca”.
Exercitando o direito
sagrado de cidadão brasileiro, lanço um fortíssimo apelo aos governantes,
políticos e lideranças em geral: vamos, todos juntos, trabalhar para oferecer formação
profissional qualificada aos brasileiros, antes que a nossa subserviência fique
maior e irreversível!
Junji Abe,
produtor e líder rural, é ex-prefeito de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo
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