Além da
ansiedade, vulnerabilidade, tristeza e tudo de ruim que a pandemia do Covid-19
faz gritar em nossos corações, somos arrebatados pela atrocidade do racismo,
pululando em suas mais macabras vertentes.
O segurança afro-americano
George Floyd (46) foi cruelmente assassinado por um policial branco que, com o
joelho, pressionou o pescoço da vítima até matá-la. Sem piedade, o agressor ignorou os apelos do trabalhador
negro. Ações policiais em nome da segurança nacional são justificadas e até
elogiadas pelo inconsequente presidente Donald Trump.
O fato gerou comoção
planetária. Como tem de ser para todos aqueles que se dizem humanos. Protestos
contra o racismo cobrem os EUA.
No Brasil, a morte de negros
tem sido constante, apesar dos protestos que se avolumam. Em 18 de maio, no
município de São Gonçalo/RJ, um adolescente de 14 anos foi morto dentro de
casa, por uma bala perdida, advinda de uma ineficiente operação policial.
Não podemos continuar com
esta monstruosa intolerância racial no Brasil. Justo num país multirracial que gera
a riquíssima policultura.
Não podemos esquecer a
escravatura dos indígenas, logo após o descobrimento do Brasil em 1500. Nem da
desumana escravidão negra, iniciada em 1539, esfacelando famílias que, presas
aos milhares, eram trazidas do continente africano. A abolição só veio com a
Lei Áurea, em 13 de maio de 1888. Os poderosos portugueses, denominados senhores da terra, usaram, abusaram,
violentaram e mataram, secularmente, as pessoas negras escravizadas, sem
sofrerem punições.
Passaram-se séculos e, infelizmente,
persistem a exploração e intolerância dos ditos poderosos contra aqueles que
têm cor de pele diferente da branca. Estes facínoras continuam praticando, além
da degradação social, a cultura do preconceito, especialmente contra os negros.
No Brasil, a legítima revolta
contra a cruel escravidão faz parte da nossa triste história. As lutas
vanguardeiras de personalidades negras, políticos e intelectuais, como José do
Patrocínio e Joaquim Nabuco, devem ser eternamente lembradas.
Na África do Sul, despontou o
lendário Nelson Mandela na batalha hercúlea contra o Apharteid. Nos EUA, o
imortal pastor negro Martin Luther King, pelas intensas lutas contra a pobreza
e o racismo. Ele foi assassinado, mas deixou extraordinário legado, sintetizado
na célebre citação: “Eu tenho um sonho
que meus quatro pequenos filhos um dia viverão em uma nação onde não serão
julgados pela cor da pele, mas pelo conteúdo do seu caráter”.
Conclamo todos a lutarem
contra o racismo, rechaçá-lo integralmente, de forma pacífica e ordeira, mas
com vigor e determinação, tendo como referência a batalha gigantesca de personalidades
que a história nos mostra.
Como cidadão brasileiro,
filho e neto de imigrantes japoneses agricultores, nascido em 1940, na generosa
Mogi das Cruzes/SP, falo com convicção e sinceridade. Enquanto criança, jovem e
até como adulto, sofri bullying. Nunca com a agressividade e intensidade que
atingem quem tem pele escura, mas fui vítima de intolerância racial e social.
Ouvi, por inúmeras vezes, xingamentos do tipo “japonês olho rasgado”, “japonês
pixote”, “japa de merda, volta pra sua terra!” e tantos outros que não gosto de lembrar.
Mesmo com esses ferimentos
que maculam a alma, graças à primorosa
educação do lar, companhia de ótimos amigos e excelentes parceiros, superei a
humilhação sofrida da barulhenta minoria racista, atravessando o mar revolto
sem mágoa ou ressentimento. Com altivez, perseverança e dignidade. De ser
nipodescendente humilde, que usava roupas feitas pela minha mãe com sacos de
batata.
Modéstia à parte, sem
falácia, cumpro e prego com fidelidade as lições de fraternidade, igualdade,
paz e amor com fé cristã. #MaisAmor
Junji Abe, produtor e líder rural, é
ex-prefeito de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário