sexta-feira, 5 de junho de 2020

Racismo Zero


Além da ansiedade, vulnerabilidade, tristeza e tudo de ruim que a pandemia do Covid-19 faz gritar em nossos corações, somos arrebatados pela atrocidade do racismo, pululando em suas mais macabras vertentes.

O segurança afro-americano George Floyd (46) foi cruelmente assassinado por um policial branco que, com o joelho, pressionou o pescoço da vítima até matá-la. Sem piedade, o  agressor ignorou os apelos do trabalhador negro. Ações policiais em nome da segurança nacional são justificadas e até elogiadas pelo inconsequente presidente Donald Trump.

O fato gerou comoção planetária. Como tem de ser para todos aqueles que se dizem humanos. Protestos contra o racismo cobrem os EUA.

No Brasil, a morte de negros tem sido constante, apesar dos protestos que se avolumam. Em 18 de maio, no município de São Gonçalo/RJ, um adolescente de 14 anos foi morto dentro de casa, por uma bala perdida, advinda de uma ineficiente operação policial.
Não podemos continuar com esta monstruosa intolerância racial no Brasil. Justo num país multirracial que gera a riquíssima policultura.

Não podemos esquecer a escravatura dos indígenas, logo após o descobrimento do Brasil em 1500. Nem da desumana escravidão negra, iniciada em 1539, esfacelando famílias que, presas aos milhares, eram trazidas do continente africano. A abolição só veio com a Lei Áurea, em 13 de maio de 1888. Os poderosos portugueses, denominados  senhores da terra, usaram, abusaram, violentaram e mataram, secularmente, as pessoas negras escravizadas, sem sofrerem punições.

Passaram-se séculos e, infelizmente, persistem a exploração e intolerância dos ditos poderosos contra aqueles que têm cor de pele diferente da branca. Estes facínoras continuam praticando, além da degradação social, a cultura do preconceito, especialmente contra os negros.

No Brasil, a legítima revolta contra a cruel escravidão faz parte da nossa triste história. As lutas vanguardeiras de personalidades negras, políticos e intelectuais, como José do Patrocínio e Joaquim Nabuco, devem ser eternamente lembradas.

Na África do Sul, despontou o lendário Nelson Mandela na batalha hercúlea contra o Apharteid. Nos EUA, o imortal pastor negro Martin Luther King, pelas intensas lutas contra a pobreza e o racismo. Ele foi assassinado, mas deixou extraordinário legado, sintetizado na  célebre citação: “Eu tenho um sonho que meus quatro pequenos filhos um dia viverão em uma nação onde não serão julgados pela cor da pele, mas pelo conteúdo do seu caráter”.

Conclamo todos a lutarem contra o racismo, rechaçá-lo integralmente, de forma pacífica e ordeira, mas com vigor e determinação, tendo como referência a batalha gigantesca de personalidades que a história nos mostra.



Como cidadão brasileiro, filho e neto de imigrantes japoneses agricultores, nascido em 1940, na generosa Mogi das Cruzes/SP, falo com convicção e sinceridade. Enquanto criança, jovem e até como adulto, sofri bullying. Nunca com a agressividade e intensidade que atingem quem tem pele escura, mas fui vítima de intolerância racial e social. Ouvi, por inúmeras vezes, xingamentos do tipo “japonês olho rasgado”, “japonês pixote”, “japa de merda, volta pra sua terra!” e  tantos outros que não gosto de lembrar.

Mesmo com esses ferimentos que maculam a alma, graças  à primorosa educação do lar, companhia de ótimos amigos e excelentes parceiros, superei a humilhação sofrida da barulhenta minoria racista, atravessando o mar revolto sem mágoa ou ressentimento. Com altivez, perseverança e dignidade. De ser nipodescendente humilde, que usava roupas feitas pela minha mãe com sacos de batata.

Modéstia à parte, sem falácia, cumpro e prego com fidelidade as lições de fraternidade, igualdade, paz e amor com fé cristã. #MaisAmor

Junji Abe, produtor e líder rural, é ex-prefeito de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo

Nenhum comentário:

Postar um comentário