terça-feira, 25 de maio de 2021

Contra o pedágio

 


#PedágioNão – Compartilho a minha carta dirigida ao governador João Doria contra a implantação das praças de pedágio nas rodovias Mogi-Dutra e Mogi-Bertioga, que foi publicada por O Diário:

 

Carta ao Governador:

 

Com elevada honra e respeito, venho à presença de Vossa Excelência para manifestar minha profunda contrariedade pela implantação de postos de pedágio nas Rodovias Estaduais Mogi-Dutra (SP-88) e Mogi-Bertioga (SP-98).

 

Por integral legitimidade e justiça, ombreio-me às manifestações de prefeitos, vereadores, deputados estaduais e federais, lideranças e participantes do movimento “Pedágio Não”, de toda a Região do Alto Tietê, que lutam com bravura contra a instalação dos malfadados postos de pedágio.

 

Senhor Governador, tenho certeza de que são de conhecimento de Vossa Excelência, como também da Secretaria Estadual de Transportes e da Artesp, as razões de toda a nossa contrariedade.

 

Aproveito para agregar outros fatos históricos que, talvez, tenham sido esquecidos pelas autoridades públicas. Falo das gigantescas contribuições oferecidas, ao longo das décadas, pelos municípios do Alto Tietê ao Estado de São Paulo e sua população, sem jamais terem recebido um pingo de consideração de seguidos governantes.

 

Refiro-me às construções de seis barragens, instaladas inicialmente para contenção de enchentes nas cidades de São Paulo e demais a sua montante: a) Reservatório de Rio Claro, entre Salesópolis e Biritiba Mirim, inaugurado em 1932; b) Reservatório da Ponte Nova, no município de Salesópolis, em 1972; c) Reservatório de Taiaçupeba, na divisa entre Suzano e Mogi das Cruzes, em 1976; d) Reservatório de Jundiaí, no município de Mogi das Cruzes, em 1989; e) Reservatório de Biritiba Mirim, divisa entre Biritiba Mirim e Mogi das Cruzes, em 2001; e f) Reservatório de Paraitinga, no município de Salesópolis, em 2003. Exceto Rio Claro, as outras cinco foram transformadas em reservatórios para garantir o abastecimento de água a milhões de paulistas, por meio do Sistema Produtor de Água do Alto Tietê.

 

Senhor governador, nada contra as importantes obras públicas que visam o interesse público. Porém, ao longo de três décadas (1970 a 2000), as represas sepultaram aproximadamente 900 pequenas e médias propriedades rurais produtivas de alimentos desses municípios, como também ceifaram mais de 4 mil empregos diretos nas lavouras.

 

Os produtores com áreas desapropriadas jamais conseguiram se recuperar, visto que o governo estadual se apossava das terras, incluindo as produções de hortaliças, frutíferas e granjeiros, depositando na Justiça valores de indenizações que representavam menos de 10% dos preços de mercado. Aos que discordavam, restava recorrer ao Poder Judiciário e se submeter à morosidade do sistema que, na maioria dos casos, fez com que os desapropriados morressem sem receber as indenizações.

 

Produtores e trabalhadores rurais não foram os únicos prejudicados diretos. Os municípios, que cederam vastas áreas para a construção de barragens, jamais receberam compensação financeira do Estado, ao contrário do que faz o governo federal oferecendo compensação de ordem tributária para cidades alagadas em função da construção de hidrelétricas. Nenhum benefício chegou aos municípios do Alto Tietê, segregados para produção de água, apesar da nossa retumbante luta, desenvolvida ao longo dos anos em que atuei como  deputado estadual, deputado federal e prefeito de Mogi das Cruzes.  

 

Senhor Governador, somos defensores intransigentes do meio ambiente, porém, é necessário registrar que os municípios alvos de represas têm imensas áreas sob proteção ambiental. Essas restrições inviabilizam o desenvolvimento regular dessas cidades. Basta citar que Salesópolis e Biritiba Mirim têm mais de 90% de seus territórios invioláveis, enquanto Mogi das Cruzes apresenta aproximadamente 60% de sua área. As severas restrições impedem uma série de atividades econômicas, notadamente dos setores industriais e parte do comercial. Cabe destacar ainda que, em se tratando de represas para abastecimento de água, sequer o turismo é permitido como fonte de emprego e renda.

 

Senhor Governador João Doria, com estas tristes lembranças, reafirmo à Vossa Excelência que a implantação de postos de pedágios nas Rodovias Mogi-Dutra e Mogi-Bertioga, além de uma injustiça imperdoável, representa a paralisação do desenvolvimento sustentável da Região do Alto Tietê e o retrocesso dos avanços socioeconômicos conquistados ao longo de sua existência. Em especial, da qualidade de vida de toda a imensa população que ultrapassa 1,5 milhão de habitantes. Portanto, respeitosamente, apelo à Vossa Excelência se digne a mudar o projeto e, terminantemente, aborte os pretendidos postos de pedágio nas Rodovias Mogi-Dutra e Mogi-Bertioga. Se não for pela certeza do futuro macabro que as cobranças significam, que seja para honrar os inomináveis sacrifícios já ofertados pelo povo do Alto Tietê!

 

Atenciosamente,

 

Junji Abe, empresário e líder rural, que foi vereador, deputado estadual, deputado federal e prefeito de Mogi das Cruzes/SP

 

(foto: O Diário/Arquivo)

 

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