sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Contra a seca

 

#SemiáridoNordestino – Com sensibilidade, vontade política e tecnologia, quaisquer dificuldades são superadas ou, no mínimo, reduzidas. Exemplos não faltam. O Brasil é uma potência mundial no agronegócio, graças à parceria com o Japão que, nas décadas de 1950 a 1970, financiou o Programa Nipo-Brasileiro de Desenvolvimento do Cerrado Brasileiro (Prodecer) para transformar o improdutivo cerrado, no centro-oeste do País, na maior fonte produtora de alimentos do mundo.

 

Faz séculos que os governantes não conseguem resolver a seca quase contínua, que castiga a região nordestina. Milhares sofrem por falta de dignidade. No passado, foram obrigados a migrarem para sudeste e sul. Devemos muito aos nordestinos que trabalham incansavelmente pela nossa região, principalmente no Estado de São Paulo.

 

Aplaudimos o programa de transposição das águas do Rio São Francisco, por meio de canais, para o semiárido nordestino. Porém, os custos elevadíssimos fazem as obras se arrastarem por décadas, sem conclusão. A prioridade para o nordeste deveria ser o contínuo investimento em medidas como o “Programa de Cisternas”, com custos muito menores e resultados comprovados.

 

O investimento no programa tem sido tímido e, embora iniciado há mais de uma década, gerou algo em torno de 1,2 milhão de cisternas. Poderiam ter sido, no mínimo, 20 milhões de cisternas, beneficiando 30 milhões de habitantes, principalmente agricultores familiares.

 

Comprova essa realidade a história de sucesso que envolve três gerações da família José Severino Lima, proprietária do Sítio Caruá, em Vertentes, no agreste pernambucano. A 1ª cisterna foi implantada em 2012 para captação e armazenamento de 16 milhões de litros de água da chuva. Foi para consumo, garantindo a sobrevivência da família na grave seca. Seis anos depois, veio a 2ª cisterna, com capacidade para 52 milhões de litros de águas da chuva, que propiciou o cultivo e criação de animais, incluindo aves e abelhas. Além de prover a família, os alimentos produzidos são comercializados no mercado e feiras-livres locais.  A receita advinda de verduras, frutas, animais e 45 colmeias de abelha garante aos Severino Lima uma vida tranquila. Vejam: https://jc.ne10.uol.com.br/pernambuco/2021/10/13610064-oasis-no-sertao-a-historia-de-jefferson-menino-que-nao-sabe-o-que-e-a-seca-mesmo-morando-no-semiarido-nordestino.html

 


Infelizmente, desde 2015 as verbas públicas destinadas pelo governo federal ao “Programa de Cisternas” sofrem cortes sistemáticos de até 90% do orçamento original. São fatos assim que recolocam o Brasil no Mapa da Fome Mundial. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), isto reflete a descontinuidade de políticas públicas e a falta de legítimos programas sociais, tendo como alvo a inclusão e o combate à desigualdade social. É um dos piores e maiores males do Brasil. #MaisSensibilidade #MaisTrabalho #ContraASeca #ContraAFome

 

(Imagem: Ana Mendes/Acervo Centro Sabiá) 

 

Junji Abe, produtor e líder rural, é ex-prefeito de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo

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