sexta-feira, 24 de outubro de 2025

Idosas no crime

 

#VidaNaPrisão – O envelhecimento populacional tem sido um grande desafio aos governantes, principalmente nos continentes asiático e europeu. O Brasil, socialmente muito desigual, já acarreta grandes dificuldades aos idosos. Para enfrentar a solidão e o alto custo de vida, idosas do Japão adotam uma medida radical: cometer crimes. Segundo a CNN internacional, o número de presos com 65 anos ou mais quase quadruplicou de 2003 a 2022. O World Prision Brief (WPB), organização que monitora a situação das prisões no mundo, afirma que 9,1% dos prisioneiros no Japão são mulheres.

 

Parcela significativa de japonesas idosas diz que pagaria 20 mil ou 30 mil ienes (R$ 750 ou R$ 1.090) por mês para viver presa para sempre, se pudesse. Muitas cometem roubos intencionalmente para serem encarceradas. De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), 20% das pessoas com mais de 65 anos no Japão vivem na pobreza e, por esta razão, preferem a vida atrás das grades à liberdade. Em 2022, mais de 80% das idosas presas em todo país tinham sido condenadas por crime de roubo.

 

“Talvez esta vida seja a mais estável para mim. Aqui preciso trabalhar nas fábricas prisionais, mas recebo refeição regularmente e assistência médica gratuita. Além do mais tenho a companhia de outras presas que, muitas vezes, não possuo quando estou em liberdade”, declara uma das presas, Akiyo (nome fictício). Akiyo conta que, pois antes de ser presa, morava com o filho de 43 anos. Ele costumava dizer que queria que a mãe fosse embora de casa.

 

Na prisão de Tochigi, ao norte de Tóquio, uma em cada cinco presas é idosa. As próprias detentas apoiam as mais frágeis, como cuidadoras, quando não há funcionários para essa tarefa. Ajudam no banho, locomoção, troca de roupa e nas refeições. É um cenário que parece mais uma casa de repouso.

 

Tardiamente, o governo japonês analisa essa emergência silenciosa. As idosas que recebiam auxílio após serem soltas tinham menor probabilidade de reincidência em crimes. Isso fez as autoridades proporcionarem apoio aos idosos vulneráveis. O governo lançou programas para as presidiárias com a intenção de orientá-las a buscar vida independente e melhor relacionamento com familiares, além de tentar ampliar a oferta de moradia aos idosos.

 

Que a situação do Japão e demais países que enfrentam realidade semelhante sirva de alerta ao nosso Brasil. Dados do IBGE de 2022 demonstravam que a população idosa (60 anos ou mais) no Brasil era de 17.887.737 mulheres (55,7%) e 14.225.753 homens (44,3%). Urgentemente, o governo precisa investir em programas para proporcionar estabilidade financeira, saúde, bem-estar social e, acima de tudo, iniciativas contra a solidão, conclamando os familiares para apoio, carinho e amor às pessoas idosas. #IdosasNoCrime

 


 

Junji Abe, produtor e líder rural, é ex-prefeito de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo

 

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