terça-feira, 18 de agosto de 2020

Lição de vida

Sempre tive carinho imenso por pessoas com deficiência. Regra geral, são anjos que nos dão exemplos na vida. Costumam esbanjar alegria e de nada reclamam. Lutam bravamente para suprir suas deficiências e nunca temem usar sua capacidade de seres felizes.  Contrastam com parcela significativa da população, que só sabe reclamar de tudo, culpar os outros, irradiar egoísmo e insensibilidade.   


Em funções públicas, sempre procurei viabilizar ações que elevassem a qualidade de vida da pessoa com deficiência. Também foi assim quando assumi a Prefeitura de  Mogi, em 2001. Norteados pelo PGP – Plano de Governo Participativo, construído com a comunidade mogiana, constituímos o Conselho Municipal para Assuntos da Pessoa com Deficiência. De forma pioneira, o colegiado implementou inúmeras políticas públicas para inclusão social e de trabalho, e de mobilidade urbana, entre outras várias ações.


Compartilho um caso pessoal. No final de maio, por descuido, sofri uma queda no quarto. A reação instantânea para proteger a cabeça provocou um impacto fortíssimo do meu ombro esquerdo contra o assoalho. O estrago foi grande! Romperam-se o tendão e os ligamentos, ocasionando dor insuportável. Encarei uma cirurgia com nome complicado – Reparo Artroscópico do Manguito Rotador Subcapular. Desde 2 de julho último, estou com tipoia no braço esquerdo, 24 horas por dia. O equipamento deve ser removido até o fim do mês. Daí, começa a fisioterapia três vezes por semana, ao longo de três meses.

 

Torno público esse pequeno acidente para alertar pessoas idosas como eu a redobrarem cuidados nas atividades diárias. Passou da hora de evitar aquela postura do apressadinho que, apesar dos quase 80 anos de idade, se julga jovem e capaz de fazer tudo com a mesma destreza de antes. É um abuso! Depois, ficamos lamentando e atribuindo a ocorrência à falta de sorte.

 

Conto esse caso também para destacar o quanto se pode extrair de legítimas histórias de superação, protagonizadas por quem tem deficiência e encara a vida, sem reclamar de infortúnios. Cliquem https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2020/07/22/sem-as-maos-mulher-vira-costureira-e-cria-suas-proprias-pecas.htm e leiam a emocionante luta da Alcilene Moraes Nunes.

 

Ela tinha apenas 1 ano e 3 meses de vida quando a casa onde morava com os pais e 12 irmãos, no Pará, pegou fogo. Com queimaduras de 3º grau em todo o corpo, rosto e couro cabeludo, ela teve as duas mãos amputadas.

 

Atualmente, com 45 anos, carrega profundas cicatrizes no rosto. Mas, nada a impediu de realizar o sonho de virar costureira. De família muito humilde, aos 28 anos, ela se mudou para São Paulo, em busca de tratamento médico e esperança de dias melhores.

 

Apaixonada por desenho, pintura e artesanato, Alcilene confeccionava e vendia caixas decoradas, sabonetes artesanais e lembrancinhas para festa. Era o meio de sobreviver, sem perder o sonho de ser costureira. Em 2010, começou a dar seus primeiros passos no ofício, fazendo consertos em roupas na máquina de costura. “Eu jamais desisti de fazer algo antes de tentar”, ensina ela.

 

Em 2016, Alcilene ganhou bolsa estudantil do curso de costureira no Senai. Em seguida, estudou modelagem. “No início, as roupas não ficaram muito boas, mas eu continuei tentando. Quando você tem força de vontade e deseja algo, consegue fazer”, incentiva ela.

 

Como profissional, Alcilene comercializa pelo site “peças da sua confecção”,  enviando sua produção para cidades do Pará e da Bahia, além de São Paulo.

 

Sem qualquer deficiência, não temos o direito de reclamar de nada, de nadinha. Alcilene Moraes Nunes, sem as mãos, casada, mãe devotada, profissional de primeira grandeza, sempre simpática, alegre e extremamente guerreira, merece de todos um profundo respeito, reconhecimento, admiração e, acima de tudo, eterna gratidão pelo seu exemplo e lição de vida!

 

Junji Abe, produtor e líder rural, é ex-prefeito de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo

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