sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Triste realidade

 

#DesmonteAmbiental – Se esperávamos que, no novo governo, o meio ambiente e a defesa dos povos indígenas teriam os devidos ajustes com proteção e preservação, ficamos a ver navios. Por não ter apoio parlamentar suficiente no Congresso, principalmente na Câmara dos Deputados, o atual governo sofreu uma derrota devastadora. Refiro-me ao Projeto de Lei que institui o Marco Temporal. Os parlamentares modificaram a proposta, concedendo brechas para o garimpo e abertura de estradas em terras indígenas. Um retrocesso total para o meio ambiente e prejuízo gigantesco para o Brasil.

 

Além das perdas ao meio ambiente e às terras indígenas, as consequências são desastrosas para as áreas econômicas e sociais. Afinal, vivemos num mundo global, como se fosse uma única aldeia. Nações importadoras da maior riqueza atual do Brasil, os produtos agropecuários (commodities), fazem questão de selo de qualidade, comprovando a origem e a isenção de quaisquer agressões ao meio ambiente e ao consumidor pelo país exportador.

 

Além dos produtos de exportação, os fundos de investimentos internacionais de que o Brasil tanto necessita para o desenvolvimento sustentável sofrem riscos enormes de cortes. Incluem-se as contribuições ao Fundo Amazônico de países como Noruega, Dinamarca e Alemanha.

 

Infelizmente, os deputados federais esquartejaram as estruturas dos ministérios do Meio Ambiente e dos Povos Indígenas, tirando-lhes competências para combater o desmatamento e o garimpo ilegais, a grilagem de terras, o mau uso dos recursos hídricos e o descarte irregular de resíduos e efluentes. Mais ainda, mudaram as leis vigentes em defesa da Mata Atlântica, nas regiões litorâneas de norte a sul do Brasil, flexibilizando-as contra as restrições atuais existentes sobre o que sobrou desta reserva. Os parlamentares também desfiguraram o Ministério dos Povos Indígenas, entendendo que eles detêm áreas desproporcionais ao número de habitantes.

 

Não adianta o Congresso afirmar que devemos explorar nossos minérios antes que os estrangeiros invadam o País. Não adianta se preocuparem com o aquecimento global, acusando os organismos internacionais, inclusive a ONU, à medida em que implodem o próprio país, as leis restritivas e as estruturas ministeriais de proteção socioambiental, que são sinônimo de desenvolvimento sustentável.

 

Infelizmente, o governo muda os rumos e começa a atender às pressões do Centrão, referentes à liberação de mais ministérios, mais cargos e emendas parlamentares, sem cobrar sensibilização quanto às perniciosas mudanças nas estruturas administrativas. 

 

Salvo algumas lideranças da sociedade civil que aparecem com suas justas críticas, o restante, envolvendo grandes representações de agropecuaristas, industriais, comerciais, de serviços e de profissões liberais, todos permanecem calados e passivos, vendo o bonde passar.#TristeRealidade

(Imagem de queimada em Apuí, no Amazonas: Christian Braga/Greenpeace)

 

Junji Abe, produtor e líder rural, é ex-prefeito de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo

 

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